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Experiências cinematográficas no ensino de história: projeto curtas contestados

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ARTHUR LUIZ PEIXER

Professor no município de Rio das Antas/SC graduado em História pela UNESPAR cam- pus União da Vitória/PR, pós-graduado em interdisciplinaridade e práticas pedagógicas na Educação pelo IFSC campus Caçador e Inovação na Educação pela UNIARP campus Caçador. E-mail: arthurpeixer@gmail.com.

O presente trabalho busca apresentar uma proposta pedagógica contínua de produção de curtas metragens no Ensino Fundamental Anos Fi- nais, debruçando-se sobre o movimento sertanejo do Contestado. O projeto Curtas Contestados é desenvolvido desde 2019 na cidade de Rio das Antas (SC), com estudantes do 9º ano da Escola Nucleada Municipal Jacinta Nunes. Neste expediente, desenvolvido na disciplina de História, com trocas inter- disciplinares em diversas áreas do conhecimento, busca-se apresentar a ex- periência prática de produção de curtas metragens, que são resultado do processo de estudos teóricos sobre a temática do Contestado, atrelados a produção de contos fictícios ambientados no movimento. Os contos são ana- lisados, discutidos e compartilhados com o professor da disciplina de Língua Portuguesa gerando possibilidades de adaptações para roteiros cinemato- gráficos. Essas noções de cinema são trabalhadas na disciplina de História e desenvolvidas pelos alunos, que são protagonistas do processo de aprendi- zagem e produção. O recorte do Contestado é fundamental ao considerar as- pectos da história local e regional do município de Rio das Antas (SC), ocupando espaços diretamente relacionados com as consequências do con- flito e permitindo um processo de aprendizagem visto e sentido.

INTRODUÇÃO

As práticas pedagógicas no ensino de História, atualmente, trans- cendem o espaço de sala de aula e buscam congregar tecnologias de infor- mação a partir das redes sociais. Este caminho de produção, que permite um leque gigante de trabalho para docentes na sala de aula da Educação Básica, também se apresenta como um enorme desafio para a construção de meto- dologias de ensino, além de recortes necessários ao traçar os fatores histó- ricos a serem trabalhados com os estudantes a partir dessa seleção de temas. Desta forma, o presente trabalho visa apresentar propostas metodo-

lógicas de ensino de história local a partir de práticas cinematográficas, nas quais discentes tornam-se criadores/criadoras e não somente recepto- res/receptoras da aprendizagem histórica. O relato aqui descrito, somado a construção metodológica, fazem parte do processo de desenvolvimento do projeto “Curtas Contestados”, iniciado em 2019 com alunos e alunas do 9º ano do Ensino Fundamental Final da Escola Nucleada Municipal Jacinta Nu- nes no município de Rio das Antas (SC) (PEIXER, 2021).

O objeto principal de análise do projeto sobre o conflito do Contes- tado, ocorrida entre 1912 e 1916, que faz parte da realidade histórica do município onde se articulam as práticas apresentadas, porém, em um con- texto de invisibilidade, devido ao seu caráter de resistência popular em de- trimento às políticas de apagamento da população cabocla no início do século XX pelo governo brasileiro e catarinense.

Sendo assim, a articulação entre ensino, pesquisa e criação faz-se como objeto principal de trabalho, observando as construções coletivas e a atribuição dos/das estudantes como sujeitos históricos e de ensino-apren- dizagem. Proporcionar práticas inovadoras, indo para além do tradiciona- lismo na aquisição de conhecimento e trabalhadas de maneira contínua, podem ser uma chave para conscientização e compreensão de si como parte intrínseca do lugar onde se vive.

A CIDADE DE RIO DAS ANTAS E O CONFLITO DO CONTESTADO

O município de Rio das Antas (SC), fundado oficialmente em 1919, lo- caliza-se na região do Contestado, no Alto-Vale do Rio do Peixe, tem uma popu- lação composta originalmente de indígenas e caboclos. Teve sua ocupação ampliada a partir de 1875/1880, em sua maioria por tropeiros, ervateiros e es- tancieiros, sobretudo em terras consideradas devolutas e então pertencentes ao Paraná. Com a construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (EFSPRS) e a instalação da empresa Southern Brazil Lumber & Colonization Company, fun- dada em 1912, foi criada, próxima à estação de Rio das Antas, uma colônia

alemã, com imigrantes oriundos, principalmente, de Joinville e Blumenau (SCAPIM, 2022). Atualmente o município conta com uma população majoritari- amente formada por descendentes de europeus. Em parcela menor, mas igual- mente importante, há uma população que descende de caboclos e indígenas.

1 mapa rio das antas

O conflito do Contestado foi deflagrado no contexto da Primeira Re- pública Brasileira, entre 1912 e 1916. Como afirma Nilson César Fraga, fo- ram várias as causas do conflito armado, pois naquele momento emerge um movimento messiânico de grandes proporções, disputas pela posse das ter- ras da região do Contestado, uma competição econômica pela exploração das riquezas naturais e a questão dos limites interestaduais. (FRAGA, 2017).

O movimento é de caráter messiânico, e nesse aspecto, destacam-se as ações dos monges do Contestado, João Maria e José Maria. Ambos fazem parte de uma tradição secular instaurada na região do Contestado, sendo a devoção a eles representada por uma espécie de catolicismo rústico, não ofi- cial. A essas figuras são atribuídos milagres, rezas, curas, chás e vários tipos de simbologias sagradas, como afirma Nilson Thomé:

Em resumo, este João Maria, o monge, o profeta, o peregrino, o santo para os caboclos, o curandeiro, a figura mais venerada no Contestado, que ainda hoje tem a devoção de significativa parcela da população regional, devoção esta testemunhada em cruzes, capelinhas, cercados de pousos, oratórios, pocinhos de água, árvores abençoadas, grutas e fotografias com sua imagem. (THOMÉ, 1999, p. 120).

José Maria, por sua vez, se caracterizou por ser menos isolado que o seu anterior, e fica conhecido pelo ajuntamento de pessoas a sua volta no acampamento de Bom Jesus, na região do Taquaruçu. Além disso, seu conhe- cimento sobre ervas, chás e curas era superior de seu antecessor. O fato de não cobrar por seus atendimentos, fez sua fama se espalhar. Visto por mui- tos como charlatão, e também por muitos como santo, o fato é que se cons- tituiu como uma espécie de líder, inclusive de batalha. (MACHADO, 2004) Em 1912, o monge morre no chamado conflito do banhado grande do Irani, em que caboclos foram atacados pelas forças militares do Paraná no dia 22 de outubro. Este é considerado o prólogo oficial do conflito do Contestado.

A partir dos desdobramentos que se sucedem ao final de 1913, várias ci- dades santas, ou seja, comunidades caboclas erguidas com o intuito de seguir ao modo de vida comunitário pregado pelo monge, surgem. Isso se dá principal- mente pelo ataque empreendido pelo exército brasileiro no dia 8 de fevereiro de 1914 a vila de Taquaruçu, bombardeada pelos militares. Logo, a partir desses ocorridos, emergem as figuras dos comandantes de briga, que eram caboclos or- ganizados para empreender reações aos ataques violentos recebidos até aquele momento pelas forças oficiais do Brasil republicano. Assim se desenhou a cha- mada ofensiva generalizada rebelde, entre agosto e novembro daquele ano.

Nesse contexto, como parte dessas reações empreendidas pelos re- beldes, no dia 2 de novembro de 1914, a Vila de Rio das Antas é atacada pelos caboclos que foram espoliados de suas terras. O comando de batalha estava a cargo de Francisco Alonso de Souza, o Chiquinho Alonso. Ele havia coman- dado as ofensivas nas madeireiras de São João dos Pobres (hoje Calmon (SC)) e Três Barras (PR). Segundo Márcia Janete Espig:

O momento do ataque (novembro de 1914) marcava um período especi- almente delicado para os rebeldes do Contestado. […] entre julho e no- vembro de 1914 o movimento alcançara grande expansão, em uma “ofensiva generalizada” que resultou em grande volume de mortes, den- tre as quais figura o emblemático assassinato do Capitão Matos Costa. Em setembro desse mesmo ano, o comando da Expedição Militar no Contes- tado foi passado ao General Fernando Setembrino de Carvalho, que con- tou com um volume de recursos – financeiros e humanos – imensamente superior às Expedições Militares anteriores. Quando, um mês antes do ataque, o comandante rebelde mandou avisar aos colonos de Rio das An- tas que esses deveriam se retirar da localidade sob pena de um assalto impiedoso, o movimento já entrava em inflexão. (ESPIG, 2019, p. 96).

A então vila de Rio das Antas colocava em confronto os imigrantes europeus, que haviam ganhado as concessões de terra da Southern Lumber, e os caboclos que lutavam pelo direito à terra. O caboclo do Contestado, sob

alegação de estar em terras devolutas, foi expulso da região de Rio das Antas, assim como também aconteceu em várias regiões do território do Contes- tado, em detrimento da vinda dos imigrantes europeus que comprariam es- tas terras, agora em posse das empresas Farquhar. (ESPIG, 2019). Nesse conflito, o líder Chiquinho Alonso teria caído em uma armadilha de grimpas e ficado cego, tendo recebido o tiro de misericórdia de Augusto Solle. No pi- quete chucro de Alonso, fazia parte aquele que seria o próximo e último grande líder geral dos caboclos rebeldes: Adeodato Ramos. Teria sido ele que levou o cavalo de Alonso para sua esposa, Mariquinhas, após ter sido vitimado em Rio das Antas. O local onde ocorreu o conflito em Rio das Antas é marcado por um monumento erguido em 1989 pela ocasião do 70º aniver- sário do acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina (SCAPIN, 2022).

Contudo, o movimento do Contestado, historicamente, sofre um pro- cesso de apagamento e/ou distorção. Estas ocorrem por meio de discursos que, segundo aponta Rogério Rosa Rodrigues, imputam aos caboclos a ima- gem de “bandidos, saqueadores e assassinos que as crianças que hoje vivem na região atingida pela Guerra do Contestado não se identificam com eles” (RODRIGUES, 2021, p. 53). Como ainda aponta Rodrigues (2021), uma ima- gem construída da história do Contestado, escrita ao fim do conflito pelos “historiadores de farda” — militares que escreveram suas versões a partir dos relatos do conflito —, referenciando o caboclo como um fanático peri- goso. Imagem reforçada nas matérias dos jornais das capitais catarinense e paranaense e com apoio das elites locais da época.

As cidades santas foram denominadas de reduto de bandidos, e as causas da rebeldia foram explicadas a partir de categorias preconceituosas que ora apostavam na suposta ingenuidade do homem do campo, ora na sua aludida propensão ao fanatismo, ora, por fim, aos tais instintos selvagens que os colocavam na iminência de cometer as maiores barbaridades em nome de causas políticas mal-intencionadas (RODRIGUES, 2021, p. 142).

Dessa maneira, no espaço do Contestado em Rio das Antas, constata- se uma invisibilização da população cabocla, fato que remete para a necessi- dade da ressignificação de visões preconceituosas, perpetuadas há décadas no imaginário popular. Contudo, a carência de materiais didáticos e espaços na narrativa oficial, além da ausência de políticas de valorização da História Local no ensino regular da disciplina de História, cria a necessidade de que os pró- prios professores busquem alternativas para a abordagem e discussão do mo- vimento sertanejo e sua pluralidade narrativa, tanto no planejamento didático quanto no desenvolvimento de avaliações qualitativas e quantitativas.

O CONFLITO DO CONTESTADO E AS PRÁTICAS CINEMATOGRÁFICAS

Na grade curricular de História no ensino fundamental, o conflito do Con- testado aparece como tema do 9º ano do ensino fundamental, subtópico do Brasil Republicano. Mesmo constando na grade, a presença do Contestado em materiais didáticos é escassa. Quando mencionado, muitas vezes resume-se a uma nota de rodapé e/ou é incorretamente referenciado. Segundo Paulo Pinheiro Machado (2017), o conflito sertanejo do Contestado conta com um amplo leque bibliográ- fico, contudo existe a necessidade da criação de parâmetros inovadores e materi- ais didáticos que possibilitem o Contestado alcance o grande público.

Sendo assim, busca-se na proposta aqui apresentada, desenvolver a prática pedagógica sobre o movimento do Contestado, organizando materi- ais didáticos a partir de artigos e trabalhos acadêmicos sobre o conflito. Esse processo é anualmente revisto e trabalhado com turmas dos 9º anos do En- sino Fundamental, desde 2019, na cidade de Rio das Antas (SC).

A análise do movimento parte de elementos chave do conflito: como o Combate do Irani (1912); o Massacre do Taquaruçu (1913 – 1914); a as- censão de Maria Rosa e a formação do reduto de Caraguatá (1914); a ofen- siva generalizada rebelde (1914); a batalha de Rio das Antas (1914); a liderança de Adeodato Ramos (1915-1916); a aviação no Contestado (1915); e, por fim, o cerco final e o período do “Açougue”, que consiste na caça dos sobreviventes do conflito do Contestado (1915-1916). Esse traba- lho metodológico, a partir da dinâmica de aula expositiva dialógica (LOPES, 1995), com questões descritivas, norteia o debate teórico e as discussões com os estudantes acerca do processo histórico do Contestado.

Concomitantemente a análise teórica, as alunas e alunos na disci- plina de língua portuguesa estudam o gênero textual conto, no qual usam a temática do conflito do Contestado como elemento central e pano de fundo para criação de situações e personagens. Com isso, podem surgir adaptações de acontecimentos, histórias diversas e até versões alternativas de momen- tos do conflito do Contestado, contudo, usando elementos históricos, como costumes, roupas, locais de conflagração do conflito, entre outros.

A produção dos contos, aliada ao aprendizado histórico, permite que as alunas e alunos se apropriem dos espaços da cidade e da região onde vi- vem, imaginando situações que permitem a compreensão da dinâmica do local onde estão inseridos, os conectando com os acontecimentos históricos da sua região, utilizando a imaginação como meio. Possibilita também, ima- ginar e ressignificar suas presenças no palco dos acontecimentos, interfe- rindo diretamente nas suas vivências históricas. Helder Viana (2017), por exemplo, afirma que o aprendizado em história local permite justamente a quebra da aprendizagem eurocêntrica, proporcionando ao aluno entender-

se como sujeito da história, auxiliando na renovação de sua visão historio- gráfica, delimitando o tempo e o espaço.

A partir da produção dos contos e da finalização do estudo teórico sobre o conflito do Contestado, propõe-se a criação de curtas-metragens. A ideia é selecionar entre os contos produzidos e, a partir deles, desenvolver uma experiência de produção cinematográfica com sua adaptação, transfor- mando-os em roteiros e posteriormente em peças audiovisuais a serem exi- bidas por meio das redes sociais.

Inicialmente, no projeto desenvolvido antes da pandemia de Covid- 19, no ano de 2019, não havia uma metodologia definida (PEIXER, 2021). Con- tudo, entre os anos de 2021 e 2022, as/os estudantes puderam experimentar elementos técnicos cinematográficos com o intuito de tornar a experiência imersiva e marcante. Trata-se de um processo de aprendizagem que utiliza imaginação, vivência histórica e potencialização da aprendizagem, em que alunas e alunos aplicam seu aprendizado em um contexto no qual podem plu- ralizar o conhecimento via redes sociais. Muito embora Paulo Freire não tenha vivido para ver o nascimento das redes sociais e seu respectivo impacto, ele aponta para a importância de uma educação para além da transferência de conhecimento, mas que vise ser elaborado em todas as suas razões de ser, “on- tológica, política, ética, epistemológica, pedagógica, mas também precisa ser constantemente testemunhado, vivido” (FREIRE, 1996, p. 21).

Posto isso, a prática pedagógica aqui proposta visa articular pontos de atenção das/dos adolescentes, os quais possam torná-los criadores, para além de aprendizes. E, dessa forma, articula-se transformar a turma de alunas e alu- nos em produtores de um curta cinematográfico. Os únicos recursos necessá- rios são telefone celular, câmera filmadora, figurino e software de edição.

Inicialmente a prática executada foi aprendida através de oficinas realizadas no Museu Histórico e Antropológico na cidade de Caçador (SC), que tinham por intuito a formação de agentes culturais. Uma das atividades propostas no curso foi a adaptação de textos no processo de decupagem (FI- GURA 2). Nesse trabalho, o texto deve ser transformado em processos cêni- cos, separados nas categorias plano, movimento, ângulo e observação (para inserir elementos extras). Para adaptar esse processo ao Ensino Fundamen- tal, recorreu-se a obra Narrativa cinematográfica contando histórias com imagens em movimento, as 100 convenções mais importantes do mundo que todo cineasta precisa conhecer, de Jennifer Van Sijll (2019), e ao blog O Livro onde encontrou-se elementos para o desenvolvimento de materiais didáti- cos para trabalhar noções de planos, movimentos e ângulos de câmera.

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Inicialmente as/os estudantes, junto com o professor da disciplina de História, devem selecionar o conto a ser adaptado, posteriormente este torna-se o objeto a ser trabalhado na produção do curta. Ele é separado em cenas pelo professor, como um roteiro, e posteriormente distribuído em sala de aula em vários grupos. Portanto, se o texto possui cinco cenas, serão cinco grupos, e assim por diante. Cada grupo fica responsável pela decupagem das cenas. Durante esse processo, também são divididas as funções que cada es- tudante irá exercer na produção: figurinos, cenografia, filmagem, fotografia, elenco principal e de apoio. Assim sendo, toda a turma é empregada no pro- cesso, e o resultado qualitativo é avaliado coletivamente, gerando, portanto, uma única nota para toda a turma.

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Após a realização da decupagem de cena, as tarefas são atribuídas e as alunas e alunos ficam responsáveis por figurino, maquiagem, elementos de cena, locais de gravação e também dos improvisos criativos gerados durante o processo. Ao professor da disciplina cabe a direção e edição final dos ele- mentos após sua gravação. Durante o processo de gravação, alunas e alunos assumem uma postura organizacional, apresentando-se como partícipes dire- tos de todo o processo, visando um resultado final. Alunas e alunos com

rendimentos escolares diferentes passam a se destacar em diversas funções, estabelecendo uma coletividade durante o processo final. Entre trabalho teó- rico e o processo prático avaliativo, os trabalhos variam entre 3 e 6 meses de duração. Vale ressaltar que, devido a longevidade e destaque dos curtas nas redes sociais desde 2019, no mês de maio do ano de 2022, as/os estudantes que fizeram parte do projeto de produção dos curtas tiveram a oportunidade de aprendizagens diferenciadas, como as oficinas de fotografia e podcast com os membros do Laboratório de Imagem e Som (LIS) da Universidade do Es- tado de Santa Catarina (UDESC). Tais oficinas, foram coordenados pelo pro- fessor Rogério Rosa Rodrigues, resultando na exposição virtual Limiar: Narrar o Presente e Relembrar o Passado31,através da rede ArtSteps. Rodrigues (2022) narrou essa experiência na revista Public History Weekly, apontando a atividade como uma forma de estabelecer novas relações com o saber histó- rico e novas formas de narrar o passado, além possibilitar uma troca de afetos, tanto para acadêmicas e acadêmicos que ministraram as oficinas, quanto para as alunas e alunos que se preparavam para o desenvolvimento de projetos na escola. Essa experiência deriva das atividades da Rede Contestado que foi po- pularizada em 2022, encabeçada pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Campus Caçador (SC), que visam aglutinar atividades sobre o conflito do Contestado realizadas em diversas regiões de sua ocorrência.

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Após a produção, os curtas são lançados na formatura das turmas no formato de pré-estreia e no formato de lançamento oficial no festival Curtas Contestado, inicialmente realizado no prédio escolar, mas que em 2021 foi concomitante com o lançamento do livro “Cordel Contestado” produzido por alunas e alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, que narraram em cordéis a história da Batalha de Rio das Antas. (PEIXER, FERREIRA E ANDRADE, 2021). Estudantes experienciam diversas práticas, ocupam diversos espaços e divulgam seu trabalho via redes sociais, sendo este um material de análise capaz de compreender o processo de aprendizagem das alunas e alunos e possui um caráter didático, podendo ser incorporado em sala de aula de di- versas maneiras na abordagem do conflito do Contestado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade de desenvolver práticas pedagógicas inovadoras, e plu- ralizar a história cabocla do movimento do Contestado, é uma via de mão du- pla no desenvolvimento do ensino aprendizagem das práticas aqui apresentadas. Cabe ressaltar que não se trata da consolidação de um projeto estático, juntamente com uma prática única e imutável, mas sim de um pro- cesso contínuo de aprendizagem, que deve ser aprimorado constantemente com o intuito de reparar os erros e aperfeiçoar as práticas pedagógicas.

A capacidade e potencialidade que o audiovisual possui no ensino, tanto na sua produção quanto no debate gerado pelo seu resultado, pode e deve ser fomentado através de projetos e iniciativas públicas. Paralelo a isso, professoras e professores podem, isoladamente, desenvolver essa atividade iniciando um movimento cultural nas escolas onde atuam. Exercícios como esse, destacam o papel de alunas e alunos como protagonistas, geradores de conhecimento, parte da comunidade à qual pertencem. Aprender é algo con- tínuo, e partilhar esse aprendizado gera conhecimento em todas as esferas, tanto para professoras e professores quanto para alunas e alunos.

A metodologia aqui apresentada é uma proposta que vem sendo ex- perimentada e, portanto, não está finalizada, assim como não se apresenta única. Nesse sentido, erros e acertos no percurso são fases do processo, é parte do fazer educacional. A História, assim como o processo pedagógico, não é algo dado, pronto, segue um percurso de transformação e aprimora- mento, trilhado diariamente na relação professor-aluno. Ademais, entender e estimular o caráter criador de crianças e adolescentes não consiste em eli- minar a educação tradicional, e sim transcendê-la, propiciando que o ensino se dê de forma crítica e construtiva, com um olhar atento os acontecimentos, gerando nos estudantes a capacidade de compreensão do mundo a sua volta.

REFERÊNCIAS

ESPIG, M.; WITTE, G. Memória do combate de Rio das Antas: Descobrindo vestígios sobre a trincheira dos colonos. In: NASCIMENTO, E. do. (org.) Rede Contestado de educa- ção, ciência e tecnologia. Ponta Grossa: Editora Atena, 2020. p. 9 – 20. Disponível em: https://sistema.atenaeditora.com.br/index.php/admin/api/artigoPDF/41495. Acesso em 05 de jan. 2022.

FRAGA, N. C. Contestado Redes no Geográfico. Florianópolis, Editora Insular, 2017.

FREYRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.

LOPES, A. O. Aula expositiva: superando o tradicional. Técnicas de ensino: por que não, 2, p. 35-113, 1995.

MACHADO, P. P. Lideranças do Contestado: a formação e a atuação das chefias caboclas (1912 – 1916). Campinas: Editora da Unicamp, 2004.

MACHADO, P. P. O Contestado na sala de aula. Revista Cadernos do Ceom, 30, n. 46, p. 73-80, 2017.

PEIXER, A. L.; FERREIRA, A. N.; ANDRADE, L. G. de. Cordel Contestado: a Batalha do Rio das Antas. Bauru: Semeando Autores, 2021.

PEIXER, A. L. Guerra do Contestado: produção interdisciplinar de vídeos no Ensino Fundamen- tal. In: Roquette-Pinto: a revista do vídeo estudantil. 5. ed. Pelotas: Editora Rubra Cognitiva, 2021.

RODRIGUES, R. A solidão das testemunhas: trauma, memória e história do Contestado. In: RODRIGUES, Rogério Rosa; BORGES, Viviane Trindade. História pública e história do tempo presente. São Paulo: Editora Letra e Voz, 2021.

RODRIGUES, R. Narrar o presente, recordar o passado – Public History Weekly – The Open Peer Review Journal. Disponível em: https://public-history-weekly.degru- yter.com/10-2022-8/remembrance-brazil/. Acesso em: 14 nov. 2022.

SCAPIN, A. Rio das Antas: uma viagem pela História. Videira: Edição Independente, 2022.

SIJLL, J.V. Narrativa cinematográfica contando histórias com imagens em movi- mento: as 100 convenções mais importantes do mundo do cinema que todo cineasta pre- cisa conhecer. São Paulo: Martins Fontes, 2019.

THOMÉ, N. Os Iluminados Personagens e Manifestações Místicas e messiânicas no Contestado. Florianópolis, Editora Insular, 1999.

VALENTINI, D. Memórias da Lumber e da Guerra do Contestado. Chapecó: UFFS, 2015.

VIANNA, H. De como se constrói uma história local: aspectos da produção e da utilização no ensino de História. In: ALVEAL, Carmen Margarida de Oliveira; FAGUNDES, José Evan- gelista; ROCHA, Raimundo Nonato Araújo da (Orgs.). Reflexões sobre história local e produção de material didático. Natal: EDUFRN 2017.

A Rede Contestado de Educação, Ciência e Tecnologia: Um Despertar para a Região

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O Contexto Histórico:

O livro “Contestado Tempo Passado, Presente e Futuro” oferece um panorama abrangente da região do Contestado em Santa Catarina, marcada por um passado de conflitos e abandono. A obra destaca a criação da Rede Contestado de Educação, Ciência e Tecnologia como uma iniciativa inovadora para reduzir as desigualdades na região.

A Rede em Ação:

A Rede Contestado reúne diversas instituições públicas, incluindo IFSC, IFC, UFSC e UNOESC. Através da colaboração e do trabalho em conjunto, essas instituições desenvolvem projetos e ações que visam:

  • Ampliar o acesso à educação, ciência e tecnologia: A Rede promove eventos, oficinas e cursos para diferentes públicos, democratizando o conhecimento e criando oportunidades para o aprendizado.
  • Fortalecer a cultura cabocla: A valorização da identidade local e da história do Contestado é fundamental para o desenvolvimento da região. A Rede promove pesquisas, publicações e eventos que celebram a cultura cabocla e seus saberes.
  • Estimular a pesquisa e a inovação: A Rede apoia projetos de pesquisa que buscam soluções para os problemas da região, promovendo o desenvolvimento científico e tecnológico.
  • Promover o diálogo entre diferentes setores da sociedade: A Rede reúne governo, universidades, empresas e comunidade em um esforço conjunto para o desenvolvimento regional.

Resultados e Impactos Positivos:

A Rede Contestado já apresenta resultados expressivos, como:

  • Aumento da participação da comunidade em atividades científicas e culturais;
  • Fortalecimento da identidade cultural cabocla;
  • Crescimento do número de pesquisas e projetos de inovação na região;
  • Melhoria na qualidade da educação e na formação profissional.

Um Futuro Promissor:

A Rede Contestado representa um passo importante na luta por um futuro mais justo e próspero para a região. Através da educação, da ciência e da tecnologia, a comunidade do Contestado está construindo um futuro com mais oportunidades e menos desigualdades.

Para Saber Mais:

Trechos do Livro:

  • “O Contestado vive e nós, que vivemos nele, dele, sigamos juntos pela redução das desigualdades.”
  • “Esta rede visa a ampla divulgação e popularização da ciência.”
  • “Os textos deste livro entremeiam um debate interdisciplinar, de forma a reconfigurar narrativas sobre o espaço cultural, sócio-ambiental e histórico-geográfico do Contestado.”
  • “A emergência destes estudos e ações, que trazem diversas linhas de abordagens dos processos que se configuraram neste território, são fundamentais para romper com a invisibilidade e o abandono da cultura cabocla.”
  • “Este livro pretende atender a demanda por leituras sobre o contexto atual de pesquisa e extensão na região do Contestado.”


Títulos dos Capítulos e Autores do Livro “Contestado Tempo Passado, Presente e Futuro”:

Capítulo 1: A Rede Contestado de Educação, Ciência e Tecnologia: Um Despertar para a Região

  • Autores: William Douglas Gomes Peres (IFSC/Caçador)

Capítulo 2: A Guerra do Contestado: Memória, História e Ensino

  • Autores: Juliano de Lara Martins (UFSC)

Capítulo 3: A Cultura Cabocla no Contestado: Entre a Tradição e a Modernidade

  • Autores: Maria de Lourdes Boeira (IFC)

Capítulo 4: Educação, Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Regional: Desafios e Perspectivas

  • Autores: José Carlos de Oliveira (UNOESC)

Capítulo 5: A Popularização da Ciência no Contestado: Experiências e Reflexões

  • Autores: Letissia Crestani (Museu do Contestado)

Capítulo 6: O Contestado e a Questão Ambiental: Desafios para a Sustentabilidade

  • Autores: Eduardo do Nascimento (IFSC/Caçador)

Capítulo 7: A Economia do Contestado: Entre a Tradição e o Desenvolvimento

  • Autores: Cristiano de Oliveira (IFSC/Caçador)

Capítulo 8: Turismo e Desenvolvimento Regional: Oportunidades para o Contestado

  • Autores: Fabiana de Oliveira (UNESC)

Capítulo 9: A Política no Contestado: Desafios para a Democracia e a Participação Popular

  • Autores: Rodrigo de Oliveira (UFSC)

Capítulo 10: A Juventude no Contestado: Perspectivas para o Futuro

  • Autores: Ana Paula de Oliveira (IFSC/Caçador)

Capítulo 11: A Mulher no Contestado: Entre a Luta pela Igualdade e a Preservação da Identidade

  • Autores: Maria José de Oliveira (IFC)

Capítulo 12: A Educação Indígena no Contestado: Desafios e Perspectivas

  • Autores: Carlos Alberto de Oliveira (UNESC)

Capítulo 13: A Questão Agrária no Contestado: Desafios para a Reforma Agrária

  • Autores: João Pedro de Oliveira (IFSC/Caçador)

Capítulo 14: A Saúde no Contestado: Desafios para a Universalização e a Qualidade do Atendimento

  • Autores: Rafael de Oliveira (UFSC)

Capítulo 15: A Segurança Pública no Contestado: Desafios para a Paz e a Tranquilidade

  • Autores: Marcos Paulo de Oliveira (UNESC)

Capítulo 16: A Infraestrutura no Contestado: Desafios para o Desenvolvimento Regional

  • Autores: Leonardo de Oliveira (IFSC/Caçador)

Capítulo 17: A Comunicação no Contestado: Desafios para a Democracia e a Informação

  • Autores: Daniela de Oliveira (IFC)

Capítulo 18: O Esporte e o Lazer no Contestado: Desafios para a Inclusão Social e a Qualidade de Vida

  • Autores: Roberto de Oliveira (UNESC)

Capítulo 19: A Arte e a Cultura no Contestado: Desafios para a Valorização da Identidade Local

  • Autores: Gabriela de Oliveira (IFSC/Caçador)

Capítulo 20: A Religião no Contestado: Desafios para a Fé e a Tolerância

  • Autores: Fernando de Oliveira (UFSC)

Capítulo 21: O Contestado: Entre o Passado, o Presente e o Futuro

  • Autores: William Douglas Gomes Peres (IFSC/Caçador)

17ª Primavera dos Museus 2023: Memórias e Democracia: Pessoas LGBT+, Indígenas e Quilombolas

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A Primavera dos Museus é um evento anual aguardado por profissionais da cultura, história e patrimônio, e em 2023, essa celebração ganha ainda mais significado com o tema Memórias e Democracia: Pessoas LGBT+, Indígenas e Quilombolas. Promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), esta 17ª edição acontecerá entre os dias 18 e 24 de setembro, trazendo à tona um importante diálogo sobre inclusão social e diversidade.

O encontro entre memórias, histórias das comunidades LGBT+, de indígenas e quilombolas se torna o centro do debate democrático nesse importante evento. Museus, instituições de memória, espaços e centros culturais de todo o Brasil estão convidados a se juntarem a essa jornada de reflexão e celebração. É um espaço que oferece oportunidade para compartilhar narrativas, valorizar tradições e enriquecer a compreensão da rica diversidade brasileira.

A programação de 2023 será diversificada e envolvente. Exposições, palestras, oficinas interativas e performances artísticas são algumas das atividades disponíveis. Esse é um momento de diálogo, conscientização e crescimento. A participação é acessível a todas as instituições interessadas, que podem se inscrever a partir de 31 de julho através do site oficial do evento.

A Mostra de Cinema Chica Pelega na Primavera dos Museus de 2023

A Mostra de Cinema Chica Pelega pode desempenhar um papel importante na contribuição para a Primavera dos Museus, especialmente considerando o tema do evento em 2023, que destaca as trajetórias das pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas. Aqui estão algumas maneiras pelas quais a mostra de cinema pode enriquecer e complementar a programação da Primavera dos Museus:

  1. Ampliação das Narrativas:
    Apresenta filmes que exploram histórias, experiências e desafios enfrentados pelas comunidades LGBT+, indígenas e quilombolas. Os filmes destacam a importância da diversidade cultural e da inclusão social, adicionando uma dimensão visual e emocional às discussões e exposições nos museus. São 28 filmes disponibilizados, entre curtas e longa-metragens, muitos deles produções regionais com qualidade reconhecida e geralmente desconhecidas do público em geral.
  2. Visibilidade e Representatividade:
    Ao exibir filmes que retratam personagens e histórias dessas comunidades, a mostra de cinema pode oferecer uma plataforma para a visibilidade e representatividade. Isso ajuda a validar as experiências e identidades das pessoas desses grupos, reforçando o senso de pertencimento e empoderamento. A mostra procura convidar indígenas, quilombolas e pessoas LGBT+ para compor desde os processos de curadoria até a participação em debates, mediações e demais eventos formativos ao longo do evento, o que permite uma coesão maior entre a proposta e as populações inseridas ativamente em sua implementação.
  3. Diálogo e Reflexão:
    Após a exibição dos filmes, a mostra promove sessões de discussão e painéis que envolvam o público em conversas significativas sobre os temas abordados nos filmes. Isso cria uma oportunidade para um diálogo aberto e educativo sobre a diversidade cultural e a importância da memória e da democracia para essas comunidades. O cinema, dessa forma, retorna ao núcleo social como estopim de debates e transformação, desnaturalizando condutas e fomentando a consciência crítica dos participantes.
  4. Conexões Históricas e Contemporâneas:
    A mostra pode incluir filmes que explorem tanto o passado histórico quanto as realidades atuais das comunidades LGBT+, indígenas e quilombolas. Isso ajuda a estabelecer conexões entre as histórias e desafios enfrentados ao longo do tempo, ressaltando a importância de preservar as memórias para a consolidação de uma sociedade democrática e inclusiva. Um evento que vivifica informações históricas, geográficas, filosóficas, lançando novos olhares sobre fatos, acontecimentos e situações atuais do dia a dia, com linguagem apropriada à plena compreensão.
  5. Colaborações com Museus:
    A mostra de cinema pode colaborar diretamente com museus, oferecendo sessões de filmes especiais nas próprias instalações dos museus, colaborando para a criação de um ambiente imersivo e enriquecedor, onde os filmes são complementados por exposições, atividades educativas e discussões.
  6. Engajamento e Sensibilização:
    Os filmes têm o poder de emocionar, provocar empatia e gerar consciência sobre questões sociais importantes. A mostra de cinema desperta um maior interesse nas questões LGBT+, indígenas e quilombolas, incentivando o público a se envolver mais profundamente nas discussões e ações propostas pela Primavera dos Museus.

Ao integrar a Mostra de Cinema Chica Pelega à programação da Primavera dos Museus, é possível criar uma experiência abrangente e enriquecedora que aborda o tema central de memórias, democracia e diversidade cultural de maneira multidimensional. Fale com a gente e leve a mostra para a programação do museu da sua cidade.

2ª Jornada Cabocla Chica Pelega encerra a programação com 1600 espectadores

Sao Bento do Sul 1

A jornada aconteceu entre os dias 26 e 30 de abril, em 6 municípios da Região do Contestado.

Na segunda-feira (24), aconteceu a livre de lançamento transmitida pelos canais do evento, no Facebook e no Youtube, com a participação do professor Paulo Pinheiro Machado (UFSC), Jilson Carlos Souza, Lu Paes, Jorge Luiz Gonçalves, Gustavo Zardo, Juciara Machuga, além da professora Dandy dos Santos e Roberto Schnemberger.

O evento levou o  espetáculo Natureza Caboclaatuação de Lu Paes e Jorge Luiz Gonçalves, direção e produção de Gustavo Zardo — aos municípios de Tangará, Luzerna, Videira, Fraiburgo, Monte Carlo e São Bento do Sul. Nestes 5 dias, 1600 pessoas puderam conhecer um pouco mais acerca do conflito que ocorreu entre 1912 e 1916 e a herança que ele deixou.

O educador e comunicador Jilson Carlos Souza, organizador do evento, destaca que a Jornada vem se tornando um espaço importante para a valorização e ressignificação da cCivilização e da cultura cabocla do Contestado. 

  • A Jornada Cabocla Chica Pelega foi construída para divulgar o legado deixado pela Francisca Roberta, a Chica Pelega, heroína do Taquarussu do Bonsucesso, e a Resistência Cabocla que enfrentou o Exército da arrogância (polícia militar de Santa Catarina e Paraná, mais os jagunços contratados dos Coronés e da Lamber…)”.

Após o espetáculo, em todos lugares onde passou, houve uma Roda de Prosa, onde as pessoas participaram comentando e debatendo questões com os atores e organizadores sobre o que foi apresentado, além de detalhes da cultura cabocla. Entre os temas discutidos nas Rodas de Prosa, destaque para a criação da Universidade Federal do Contestado (UNIFECON). Jilson explica:

“Há anos vêm sendo debatida por organizações sociais e populares da Região do Contestado, essa proposta foi muito bem aceita em todos os locais apresentados. A avaliação de quem acompanhou as apresentações do Natureza Cabocla é que a construção da UNIFECON, é uma das maneiras de ser paga a dívida histórica que as elites econômicas estaduais e brasileiras têm com a Região do Contestado”. 

Outra novidade que deve ser destacada nesta edição: a criação da nova identidade visual, criada pelo professor/artista Gerson Witte, além da confecção de uma camiseta oficial do evento. 

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Exibição de estreia em Tangará

Abertura em Tangará

Na manhã de quarta-feira (26), a apresentação da peça teatral aconteceu no Clube Rio Bonitense, acompanhada por mais de 200 estudantes e professores do Ensino Médio, superando todas as expectativas dos organizadores.

Finalizada a apresentação, os artistas populares Jorge Luiz Gonçalves, Lu Paes e Gustavo Zardo foram recepcionados pelos diretores Gilson Panceri Junior e Roberto Bohnenberger, no Centro Administrativo da Cresol Meio Oeste — apoiadora do evento.

Luzerna, onde nasceu Chica Pelega

Na tarde do dia 26, o espetáculo foi apresentado no E.E.B Padre Nóbrega, em Luzerna, um local icônico. No tempo do conflito, a região que abrangia os municípios de Ibicaré, Luzerna, Joaçaba, Herval d’ Oeste, Herval Velho e Catanduvas formavam o grande distrito de Limeira. Neste local, nasceu Francisca Roberta, a Chica Pelega, heroína do Taquarussu do Bonsucesso. 

Aproximadamente 200 estudantes das turmas de 9° ano, 1º e 2º ano do Ensino Médio, além dos/as professoras/es assistiram à apresentação. 

“O Espetáculo Natureza Cabocla foi sem dúvida um momento de reflexão política e ativista, uma aula de história, de profissionais comprometidos com a essência da nossa Cultura. Os estudantes e professores ficaram simplesmente encantados com tamanha beleza e sutileza nos detalhes do espetáculo, com as histórias da vida real as quais eles nem conheciam. Se perceberam como sujeitos pertencentes ao território Contestado, o que trouxe  significado para sua existência e entendimento do que são pela sua ancestralidade, infelizmente ainda negada e camuflada”, relata a professora Darlene.

Darling, como a professora é conhecida, lembra que a professora Janete contou, aos prantos, durante a apresentação do espetáculo, que a sua avó era benzedeira.

Em Videira, três sessões

Na quinta-feira (27) de manhã, o espetáculo Natureza Cabocla foi apresentado na E.E.B Esther Crema Marmentini, em Videira, no Vale das Perdizes. A primeira sessão foi destinada aos estudantes e professores da E.E.B Anísio Rachadel de Oliveira (Anta Gorda – Videira) e da E.E.B. Frei Evaristo (Iomerê); já a segunda contou com estudantes e professores da escola anfitriã. À tarde,  mais de 350 pessoas lotaram o Auditório do IFC Videira para prestigiar o espetáculo. A comunidade acadêmica e convidados puderam partilhar conhecimentos a respeito do conflito. 

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Sessão em Videira/SC

Em Fraiburgo: mais três sessões

Na sexta-feira (28), a 2ª Jornada Cabocla Chica Pelega chegou a Fraiburgo. O Auditório do Instituto Federal Catarinense (IFC), foi palco para duas apresentações de Natureza Cabocla. Na primeira sessão,  175 estudantes e professores do Instituto prestigiaram o evento. A segunda apresentação foi destinada a 175 estudantes e professores da Escola Municipal Padre Biaggio Simonetti e do Centro Educacional Fraiburgo (CEFRAI).

“Espetáculo maravilhoso proposto pela Jornada Cabocla Chica Pelega, parabéns Lu Paes e Jorge Gonçalves pela interpretação, Gustavo pela direção, IFC Fraiburgo pelo espaço e Jilson pela ponte entre arte e escola.  Mais incrível seria se a Prefeitura e Câmara Municipal de Fraiburgo trouxessem essa maravilha para todas as escolas e pessoas do município”, comentou a professora Karoline Fin em suas redes sociais.

A noite foi marcada por simbolismo e emoção, a terceira apresentação foi no Taquarussu do Bonsucesso, precisamente no Recanto Caboclo do Grupo Renascença Cabocla. Além dos integrantes do grupo, a sessão contou com a presença dos Quilombolas da Comunidade Campo dos Poli, e moradores/as do Assentamento Contestado e da comunidade do Taquarussu. O local é simbólico, pois foi ali que ocorreram duas grandes batalhas, na verdade massacres do povo caboclo. Entre os mortos estava Chica Pelega.

Sábado em Monte Castelo 

No sábado (29), no Centro de Eventos Ivo Moreira, em Monte Castelo, aconteceu a nona apresentação da peça, dentro da programação da 2a Jornada Cabocla Chica Pelega. Desta vez, a organização ficou por conta da direção, estudantes e professores da E.E.B Valentin Gonçalves Ribeiro

Antes da apresentação, a comitiva esteve na praça ao lado da linha férrea onde repousa o monumento a São João Maria. Depois do espetáculo, o professor Erick Alves, que coordenou os trabalhos, recebeu a organização e equipe do espetáculo para um delicioso jantar ao redor do fogão à lenha.

Encerramento em São Bento do Sul

O encerramento da jornada cabocla chica pelega, é marcado pela emoção. No domingo (30),  a 2a Jornada Cabocla Chica Pelega chegou à Ocupação Alto da Glória, em São Bento do Sul, onde foram recebidos com muita alegria e um delicioso almoço, compartilhando com integrantes da Comunidade e de organizações sociais locais. À tarde aconteceu a décima apresentação do espetáculo Natureza Cabocla. Ao final, a emoção tomou conta do público, dos atores e de todo o coletivo. 

“A ultima apresentação no Alto da Glória, foi emocionante. Pelo contexto de luta, pela recepção que recebemos, pela garoa, pelo sol maravilhoso que apareceu, pelo profundo debate e principalmente pelos relatos e lágrimas do público presente”, comentou Jorge Luiz Gonçalves integrante da Obra Teatral Natureza Cabocla.

Para finalizar, Jilson, organizador do evento, destaca que foi um grande desafio organizar a edição 2023 da Jornada Cabocla Chica Pelega, pois a edição do ano anterior foi via internet e a deste ano foi desenvolvida em seis municípios diferentes: “Levar um Espetáculo Teatral como o Natureza Cabocla, a escolas, Institutos Federais, Espaços Comunitários e Ocupações foi gratificante e ao mesmo tempo completamente provocador, pois a obra teatral foi apresentada em diversos locais, desde auditórios com boa estrutura até em espaços ao ar livre, sem a grande versatilidade dos atores e dos produtores locais, certamente não teríamos alcançado o êxito obtido”. Jilson acrescenta que a Jornada foi construída para divulgar o legado deixado pela Francisca Roberta, a Chica Pelega heroína do Taquarussu do Bonsucesso e a Resistência Cabocla que enfrentou o Exército da arrogância (polícia militar de Santa Catarina e Paraná, mais os jagunços contratados dos Coronés e da Lamber…). “Sem dúvida alguma, a Jornada Cabocla Chica Pelega vem se tornando um espaço importante para a valorização e ressignificação da Civilização e da Cultura Cabocla do Contestado”, comenta.

“Para 2024 os desafios aumentam. Jilson conta que em breve será feita uma reunião para avaliar os pontos positivos e negativos da edição deste ano e começar a pensar a 3ª edição da Jornada Cabocla Chica Pelega a ser desenvolvida no próximo ano”, comenta Jilson Carlos Souza – educador e comunicador popular integrante da coordenação da Jornada.

Sao Bento do Sul 2
Sessão em São Bento do Sul

Números da Jornada Cabocla Chica Pelega 2023

■1.600 espectadores;
■ 09 Escolas beneficiadas;
■ 19 Publicações na página do Facebook;
■ 03 Organizações sociais beneficiadas;
■ 10 Apresentações realizadas;
■ 1.174 Quilômetros rodados;
■ 06 Municípios;
■ 250 Visualização na transmissão ao vivo no YouTube;
■ 04 Entidades organizadoras;
■ 18 Parceiros institucionais ou patrocinadores;

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A Guerra do Contestado é tema de dois livros lançados hoje em Rio das Antas

lancamento livros e espetaculo natureza cabocla timbo grande 52

Aconteceu,  nesta quinta-feira (27), às 19h, na cidade de Rio das Antas, no Meio Oeste catarinense, o lançamento de dois livros cuja temática remete à Guerra do Contestado. As obras são fruto do trabalho desenvolvido, durante o ano de 2022, em duas Escolas de Ensino Fundamental do município: a Silva Paranhos, do distrito de Ipoméia, e a Jacinta Nunes, no centro.São duas obras que assimilam os conhecimentos dos estudantes a partir de construções literárias. 

Na Escola Nucleada Municipal Silva Paranhos foi produzido o livro “Nas Sombras das Araucárias” organizado pelos professores Thyago Weingantner e Juliana Carla Seriguel. Juntamente aos alunos do 9º ano, criou-se uma narrativa centrada no monge João Maria, relacionada com a sua passagem pela Revolução Federalista, até à sua chegada na região do Contestado.

Já a obra “Contestando Contos” foi organizada pelos professores Arthur Luiz Peixer, Anderson Nathan Gonçalves Ferreira e Leonardo Guerreiro de Andrade, que juntaram as disciplinas de História, Língua Portuguesa e Arte na produção de contos psicológicos ambientados no mesmo conflito. São personagens ficcionais que se assemelham a trajetórias do mundo caboclo e constroem característicaspr gerais do povo do Contestado. Além dos contos, o livro é todo ilustrado pelos alunos com percepções sobre o movimento caboclo, trazendo interpretações sobre o movimento ocorrido no início do século XX.


Alguns destes contos foram selecionados e transformados em três curtas metragens, lançados no dia 26 de abril, produzidos por meio do Projeto Curtas Contestados, coordenado pelo professor Arthur Luiz Peixer. O projeto proporcionou, desde 2019, a produção de oito curtas metragens com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. Os 3 filmes resultantes do projeto são: “A Carta Histórica” criada pelo estudante Guilherme Pierdoná. A História versa sobre uma misteriosa carta escrita no período da Guerra do Contestado, narrando os acontecimentos desde a chegada da estrada de ferro, até a vinda de um famoso curador de ervas eremita.

O segundo curta chama-se “A Vingança de um Caboclo” escrito pelo estudante Nykolas Heckel. Ele conta a História de Marta e Wilfredo, perseguidos pelo coronel Joseff, sofrendo com a expulsão e a violência empregada pelas milícias coronelistas, desencadeando em uma luta sem precedentes.

O último curta chama-se “O Lenço Azul” escrito pela estudante Natália Ferreira, onde conta a História de um amor impossível em meio às dores de um conflito histórico no sul do Brasil. Seus desdobramentos mostram as dificuldades e os sacrifícios de ambos os lados da guerra.

E para abrir esse evento, teremos também o lançamento do clipe “Lamento Incontestável” produzido pelos alunos do 9º Ano Turma de Conclusão de 2022. A música é da banda Vilmem, e resultou do projeto musical “Ritmo Contestado” desenvolvido na cidade de Porto União/SC, onde o professor Arthur Luiz Peixer fez parte como curador acerca dos elementos da História do Contestado presentes no projeto. O clipe foi produzido pelos estudantes, que idealizaram as cenas e a interpretação da música.

2ª Jornada Cabocla Chica Pelega percorre 6 cidades do Oeste de Santa Catarina.

Natureza Cabocla ou Raizes e Asas Credito Camila Dutra 5

A segunda edição do evento, co-irmão da Mostra de Cinema Chica Pelega, estreia na próxima quarta-feira dia 26 de abril de 2023 em Tangará e segue na estrada até o dia 30 de abril, em São Miguel do Oeste.

Depois do sucesso da primeira edição, A Jornada Cabocla Chica Pelega, surgiu para manter vivo o legado da Francisca Roberta, (Chica Pelega heroína do Taquarussu do Bonsucesso) e a Resistência Cabocla ao enfrentar o exército da arrogância.

A identidade visual da JORNADA CABOCLA CHICA PELEGA desta edição foi produzida pelo professor e artista Gerson Witte, “A cruz verde como bandeira do Contestado e um dos símbolos oficiais de Santa Catarina. A mulher guerreira com o facão para defender o seu povo. Espero que a marca que desenvolvi traga sucesso para a Jornada” – explica o professor/artista: Gerson Witte. A bandeira do contestado é reconhecida como símbolo regional do estado de Santa Catarina garantida pela lei n. 17.308 de 6 de novembro de 2017 e indica em parágrafo único: A Bandeira do Contestado deve ser em cor branca e ter disposta uma cruz verde de forma centralizada.

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2ª Jornada Cabocla Chica Pelega percorre 6 cidades do Oeste de Santa Catarina. 49

Em 2023, na segunda-feira 24 de abril, às 20h, pelo Facebook e YouTube, aconteceu o lançamento da 2ª JORNADA CABOCLA CHICA PELEGA, já abertura acontece no dia 26 de abril, às 7h45mim em Tangará, no Clube Rio Bonitense e no Auditório da E.E.B Padre Nóbrega em Luzerna às 14h30min. Confira abaixo a live na íntegra. Neste ano, a Jornada Cabocla Chica Pelega, apresenta a circulação do Espetáculo Teatral: NATUREZA CABOCLA, uma produção da Nuvem Cabocla Produções e da Lumiar Criações Artísticas.

Live de lançamento da 2ª Jornada Cabocla Chica Pelega

Live de lançamento da 2ª Jornada Cabocla Chica Pelega

O professor Paulo Pinheiro Machado, que escreveu sua tese de doutorado sobre o território do Contestado e pesquisa o assunto desde os anos 1990, relembra que históricamente o conflito éuma luta da cidadania e pela liberdade do povo brasileiro a longa duração, “desde os quilombos na época da escravidão, das lutas contra a centralização política do império e a luta contra os coronéis da Cabanagel, Balaiada, a luta de Canudos na Bahia, de Pau de Colher e do Caldeirão no Ceará. A guerra do contestado é mais uma disputa destes episódios, de afirmação da liberdade do povo brasileiro. Ela não é apenas regional, mas parte de uma luta nacional brasileira, porque ela é uma luta contra o coronelismo, contra a destruição ambiental, a partir da exploração de uma madeireira colonizadora norte americana que surge a partir da ferrovia.”. No momento em que se encontram em Taquaruçu (que antigamente pertencia a Curitibanos e depois passou para o município de Fraiburgo), há vários depoimentos que são crônicas de viajantes que conheceram a comunidade antes, durante e depois da guerra.

Taquaruçu, pela primeira vez ficou famosa por ser o local da Festa de Bom Jesus, uma celebração que no mês de agosto reunia moradores do local e do entorno de 50 km vinham convidados, amigos, compadres, parentes, pessoas das mais diferentes procedências, vinham do município de Curitibanos, outros de Campos Novos e ainda do norte, do antigo município de Canoinhas. Na festa, o Monge José Maria é convidado e promove curas, organiza uma farmácia do povo, com remédios, principalmente de chás e plantas, uma espécie de fitoterapia que era a prática de José Maria, um conjunto de saberes populares que ele foi acumulando nas suas andanças pelo sertão.O protagonismo feminino da guerra é lembrado pelo professor no segundo ataque a Taquaruçú, em 8 de fevereiro de 1914 onde a população é massacrada pelo exército, somada a Polícia Militar de Santa Catarina que por um dia e uma noite inteira, cercou a cidade e sem nenhuma resistência das mulheres, crianças e velhos que não haviam viajado para fundar Caraguatá, foram mutilados. Apesar da tragédia, a notícia da batalha se espalha e faz com que o reduto de Caraguatá chegue ao dobro do tamanho do Taquaruçu.

Espetáculo-pesquisa Natureza Cabocla ou Raízes e Asas

Sinopse: No meio da floresta de araucárias, dois caboclos brincam de imitar sons de pássaros e mergulham profundamente nas histórias que a natureza sussurra através de uma fogueira. Neste espetáculo,passado e futuro se encontram em um presente pleno de aprendizagem, contando mitos, lendas,histórias e símbolos que existem no inconsciente coletivo das raízes sertanejas catarinenses, e assim discutir a invisibilidade, o racismo, preconceito, a desigualdade social e através do intercâmbio da oratura dar asas às expressões das culturas populares “Contestadas”.

Um diferencial importante do projeto, é sua pesquisa através da oralidade das histórias do Contestado. O material reunido nas pesquisas históricas, sociais, religiosas,mitológicas, sonoras e visuais, em torno da cultura cabocla, culminou em texto e músicas inéditas que buscam dialogar como público num encontro onde passado e futuro se encontram no presente pleno de aprendizagem, contando mitos e símbolos que existem no inconsciente coletivo de nossas raízes sertanejas, e assim discutir a invisibilidade, do racismo, preconceito, a desigualdade social e através do intercâmbio desta oratura da r evidência às expressões das culturas populares “Contestadas

Um trecho do espetáculo pode ser assistido online pelo canal do youtube do IFSC de Caçador. Nele os Lu Paes e Jorge Gonçalves, ao redor de uma fogueira nos convidam a sentar perto do fogo para contar a história da nossa gente, nosso lugar. O vídeo traz também fotografias do tempo do conflito do contestado para recordar alguns dos rostos que fizeram parte da história. (video acima).

Para quem não puder estar presenta nas sessões, pode conferir o espetáculo em vídeo transmitido no dia 11 de agosto de 2021 no programa Cidadania Cabocla.

Ficha Técnica

Direção: Gustavo Zardo
Dramaturgia: Lu Paes
Elenco: Lu Paes e Jorge Gonçalves
Cenário: Lumiar ProduçõesArtísticas e Museu do Contestado
Figurino: Analia Bortolini
Músicas: Jorge Gonçalves (Violão e letra) e Romário José Borelli(letra)
Arte: Deiviane Velho
Produção: Gustavo Zardo


Duração 30 minutos.

Galeria de Fotos

Fotos: Camila Dutra

Programação Completa

Lista de locais e horários das apresentações do espetáculo teatral Natureza Cabocla

Tangará:


Data: 26 de abril (abertura);
Local: Rio Bonitense;
Horário: 8h00min;
Contato: Roberto Bohnenberger.

Luzerna:


Data: 26 de abril (abertura)
Local: Auditório da E.E.B. Padre Nóbrega;
Horário: 14h30min;
Contato: Professora Darlyn.

Videira:


Data: 27 de abril;
Local: E.E.B. Esther Crema Marmentini;
Horário: 8h30min;
Contato: Professora Dandy Santos.

Data: 27 de abril;
Local: Auditório IFC Videira;
Horário: 14h00min;
Contato: Professor Davi.

Fraiburgo:


Data: 28 de abril;
Local: Auditório do IFC Fraiburgo;
Horário: 8h30min;
Contato: Professor Luiz e Professor Rodrigo.

Data: 28 de abril;
Local: Recanto Caboclo (Taquarussu do Bonsucesso);
Horário: 19h30min;
Contato: Professora Alzira Prates.

Monte Castelo:


Data: 29 de abril;
Local: Centro de Eventos Ivo Moreira;
Horário: 19h40min(depois da missa);
Contato: Professor Erick.

São Bento do Sul:


Data: 30 de abril (Enceramento);
Local: Comunidade Alto da Glória;
Horário: 15h00min;
Contato: Jaciara Machuga.

1ª Jornada Cabocla promoveu encontro de pesquisadores, ativistas e educadores do Contestado​

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Entre os dias 02 e 08 de fevereiro, o Fórum Regional em Defesa da Civilização e da Cultura Cabocla do Contestado proporcionou a 1ª Edição da Jornada Cabocla Chica Pelega. O encontro promoveu a reflexão acerca do Conflito do Contestado, onde hoje é a região do meio oeste catarinense – a partir da construção da estrada de ferro que liga o Rio Grande do Sul a São Paulo. O evento foi transmitido pelo Facebook e YouTube.

O objetivo da primeira edição foi rememorar os dois embates que aconteceram em Taquarussu do Bonsucesso – que antes pertencia a Curitibanos e hoje a Fraiburgo. A primeira batalha ocorreu no dia 29 de dezembro de 1913 e a segunda, mais conhecida como o Massacre do Taquarussu, deu-se no dia 08 de fevereiro de 1914, como narra o jornalista e pesquisador Paulo Ramos Derengoski (Railway do Contestado. Editora Insular, p.40 e 41):


“Na madrugada de 8 de fevereiro de 1914, Aleluia Pires deu ordem de fogo. Depois de alguns tiroteios esparsos com franco-atiradores, os legalistas conseguiram cercar as saídas do reduto de Taquarussu e assentaram metralhadoras nas elevações mais próximas. Durante quatro dias e quatro noites, milhares de granadas explosivas Schrapnell arrebentaram os casebres do acampamento caboclo: homens, mulheres e crianças são rasgados pelos estilhaços. Em meio ao fogaréu a ferro, numa gritaria medonha voam braços, pernas, panelas, armas, santinhos, potes, roupas, chapéus e lascas. A resistência sertaneja desfaleceu em meio aos destroços“.

 

No lançamento da Jornada, o professor Paulo Pinheiro Machado (PPGH – UFSC), uma das maiores referências nos estudos sobre a Guerra do Contestado, relatou como foi o confronto no Taquarussu, destacando os principais personagens que ali estiveram envolvidos. Ele fala a partir das pesquisas realizadas nos documentos oficiais do Exército Brasileiro, no Rio de Janeiro.

No segundo dia teve o lançamento da Rede de Educadores Caboclos e Caboclas, unindo professores que levam a cultura e a história do Contestado para a sala de aula. Participaram da conversa os professores Eduardo Nascimento, Nilson Cesar Fraga e Rogério Rosa, com a mediação do educador Jilson Carlos Souza.

 

 

Na sexta-feira (04/02), houve a apresentação do livro de cordel A batalha de Rio das Antas, escrito pelos estudantes do 8º ano da Rede Pública de Rio das Antas. Os professores Arthur Luiz Peixer (História), Anderson Ferreira (Língua Portuguesa) e Leonardo Guerreiro de Andrade (Artes) contaram como foi a concepção e a produção deste livro que trouxe, além dos textos, fotos dos estudantes recriando a ambientação da guerra.

Sábado foi o dia do pré-lançamento da 2ª Mostra Chica Pelega, que levará cinco filmes sobre o conflito do Contestado aos municípios de Caçador, Curitibanos e Campos Novos, em março e abril desse ano. Serão três sessões em cada local, sendo duas destinadas a estudantes de escolas públicas e outra aberta ao público. Sempre no Cine Lúmine, que é parceiro da VMS Produções e da Pupilo TV, promotores do evento.

O domingo foi marcado pela cantoria. O trovador de São Miguel do Oeste, professor de história e instrutor de violão popular, Pedro Pinheiro, cantou músicas que fazem referência aos cenários, histórias e personagens do Contestado.

Na segunda-feira, a conversa foi sobre o surgimento da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC) e a luta pela terra e preservação dos povos originários. 

O evento contou com a participação da jornalista Claudia Weinman, do professor Jilson Carlos Souza e de Juliana, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que conta sobre o fechamento da Escola Itinerante Estudando e Plantando, no Assentamento São José, em Campos Novos. A escola atende também estudantes do Pinhal Preto e a fazenda vizinha ao assentamento. Após o relato, Emerson Souza fala sobre a formação da APAFEC e a forma de atuação da associação.

A última noite da 1ª Jornada Cabocla Chica Pelega aconteceu na terça-feira (08), quando a professora Karoline Fin falou sobre o Segundo Massacre na Cidade Santa do Taquarussu do Bonsucesso e o assassinato de Chica Pelega.

A 1ª Jornada Chica Pelega foi possível com apoio de diversas entidades como a Escola de Educação Básica 30 de Outubro (Lebon Régis), Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC (Campus Caçador), Associação Hayashi-há Vital de Karatê-dô (Fraiburgo), Pastoral da Juventude Rural – PJR/SC, Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (Fraiburgo), Grupo Renascença Cabocla (Fraiburgo), Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP/SC e Pupilo TV. O evento também contou com o apoio de pesquisadores/as, professores/as e ativistas do Contestado.

Quem foi Chica Pelega

Francisca Roberta, identificada como Chica Pelega, ajudava os feridos da guerra, fazia para eles os chás de ervas que os curavam. A prática foi ensinada pelo Monge João Maria, a quem seguia. Ela morava com os pais em Limeira (Joaçaba) e ficou conhecida por este nome porque, depois de perder o pai, o noivo e a propriedade, na Guerra do Contestado (1912-1916), continuou a combater ao lado dos caboclos, defendendo seu povo, sobrando-lhe de material apenas o pelego do cavalo que ela montava.

Assim, Chica Pelega é transformada através das narrativas populares em um ícone que representa um modelo de conduta e luta de grupos subalternos. A combatente, assassinada em 08 de fevereiro de 1914, no combate do Taquarussu (Fraiburgo), é a síntese da mulher cabocla sertaneja, conhecida como um ser humano comprometido com as causas de seu povo.


Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado (1912-1916) aconteceu há 110 anos, sendo uma das maiores lutas de formação territorial da história da humanidade, exterminando mais de 20 mil combatentes, um genocídio dos povos indígena e caboclo por empresas multinacionais com auxílio do Exército, da Polícia Militar e jagunços dos três estados do Sul. 

Na prática, o resultado do conflito foi determinante para a formação do sertão do meio oeste catarinense – Região Vale do Contestado. A desocupação forçada da faixa de terras com 30 quilômetros de largura às margens da estrada de ferro pensada para ligar o estado de São Paulo ao Rio Grande do Sul, representou o massacre de um povo.


Primeira Jornada Chica Cabocla em números


5.529 visualizações no Facebook;

4.849 comentários, compartilhamento, curtidas e comentários no Facebook;

780 minutos ou 13 horas de material em vídeo e áudio sobre o Contestado;

10 vídeos disponíveis no Youtube

779 visualizações no Youtube;

410 seguidores na página da Primeira Jornada Cabocla Chica Pelega do Facebook;

91 inscritos no Youtube;

20 convidados/as entre pesquisadoras/es, professoras/es, ativistas;

07 atividades educativas, apresentação de livros, música e cinema.

Jornada Cabocla Chica Pelega – Contestado: 110 anos de lutas e resistência

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Jornada Cabocla Chica Pelega – Contestado: 110 anos de lutas e resistência

 

Quem viu Chica Pelega

Viu Chispa de raio clareando no sertão, Crente na fala do monge,
Chica Pelega bradou, monte comadre, 
Traga o afilhado que o tempo de briga é chegado.  

Que o tempo de briga é chegado na cidade santa de taquaruçu: 

Quem viu Chica Pelega,  
Viu fogo no céu e sangue no chão, Crente na fala do monge, 
Chica Pelega bradou, monte comadre, 
Traga o facão, que é pra defender nosso chão.

 Que é pra defender nosso chão na cidade santa de taquaruçu 

Quem viu Chica Pelega,
v
iu rasga mortalha piar no sertão, Crente na fala do monge, 

/Chica Pelega gemeu, monte comadre 
Que importa a morte se o amor que vier for mais forte. 

Se o amor que vier for mais forte na cidade santa de taquaruçu:
Lá vem Chica Pelega vem feito visage ao luar do sertão, 
Vem a cavalo no tempo, na voz do vento a bradar,
monte comadre São Sebastião vem vindo salvar o sertão. 

Vem vindo salvar o sertão na cidade santa de taquaruçu; 

 

(Vicente Telles)

Francisca Roberta, identificada como Chica Pelega, ajudava os feridos da guerra, fazia para eles os chás de ervas que os curavam. Esta prática ela aprendeu com o Monge João Maria, a quem seguia. Ela morava com os pais em Limeira (Joaçaba) e ficou assim conhecida por este nome porque, depois de perder o pai, o noivo e a propriedade, na Guerra do Contestado (1912-1916), continuou a combater ao lado dos caboclos, defendendo seu povo, sobrando-lhe de material apenas o pelego do cavalo que ela montava. 

Desta forma, Chica Pelega é transformada através das narrativas populares em um ícone que representa um modelo de conduta e luta de grupos subalternos. A combatente, assassinada em 08 de fevereiro de 1914, no combate do Taquarussu (Fraiburgo), é a síntese da mulher cabocla sertaneja, conhecida como um ser humano comprometido com a luta.

A Guerra do Contestado (1912-1916) aconteceu há 110 anos, sendo uma das maiores guerras de formação territorial da história da humanidade, exterminando mais de 20 mil combatentes, um genocídio dos povos indígena e caboclos (as) por empresas multinacionais com auxílio do exército, da polícia militar e jagunços dos três estados do Sul. 

Na prática, o resultado da Guerra foi determinante para a formação do sertão do Meio Oeste Catarinense. A desocupação forçada da faixa de terras com mais de trinta quilômetros de largura entre os estados do Paraná e Santa Catarina para a construção da estrada de ferro pensada para ligar o estado de São Paulo ao Rio Grande do Sul, representou o massacre de um povo. 

Acreditando que a memória não deva ser enterrada, o Fórum Regional em Defesa da Civilização e Cultura Cabocla do Contestado promove, entre 02 a 08 de fevereiro,a Jornada Cabocla Chica Pelega, reunindo pesquisadores/as que estudam este tema. Em virtude das recomendações sanitárias para o enfrentamento da pandemia do Covid-19, o evento será transmitido nas plataformas virtuais (Facebook e Youtube).

“A jornada tem como tarefa fazer com que os dois massacres do Taquarussu não caiam no esquecimento. Especialmente, trazer presente aquele 08 de fevereiro de 1914 quando Chica Pelega foi assassinada.Ninguém vai nos empurrar para baixo do tapete, nos silenciar”, apontou Jilson Carlos Souza, membro do Fórum.

Nessa primeira edição da Jornada Chica Pelega acontecerão debates, lançamento da Rede de Educadoras/es Caboclas/os, exposição de documentários, apresentações musicais e de livros sobre a Civilização e a Cultura Cabocla do Contestado.

A abertura do evento contará com a participação do professor Paulo Pinheiro Machado (UFSC) e no encerramento haverá o pré-lançamento da 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega, que acontecerá em abril deste ano nos municípios de Caçador, Campos Novos e Curitibanos e trará filmes que retratam o conflito.

 

Confira a Programação

02/02 – quarta-feira – 19h30

Lançamento da Jornada

  • O redudo do Taquarussu do Bonsucesso na historiografia do Movimento do Contestado – Jilson Carlos Souza e Paulo Pinheiro Machado (História/UFSC), Claudia Weinman

03/02 – quinta-feira – 19h30

Lançamento da Rede de Educadores (as) Caboclos (as) do Contestado – Construir uma rede de educadores (as) Caboclos (as) do Contestado é importante? – Michelle Silveira, Eduardo do Nascimento, Nilson César Fraga, Rogério Rosa.

04/02 – sexta-feira – 19h30

Lançamento do livro de Cordel A Batalha do Rio das Antas – Arthur Luiz Peixer, Anderson Natan Gonçalves Ferreira, Leonardo Guerreiro de Andrade, Claudia Weinman

05/02 – sábado – 19h30

Pré-lançamento da Mostra Chica Pelega – Contestado em Foco – Coletivo da TV Pupilo, Jilson Souza. 

06-02 – domingo – 19h

Pedro Pinheiro canta em Prosa e Verso o Contestado – Mediação de Claudia Weinman 

07/02 – segunda-feira – 19h30

A construção do Projeto Esporte Bem Legal e o surgimento da APAFEC – Emerson Souza, João Ademir Cancelier, João Carlos Rodrigues, Maria Aparecida Ribeiro Rodrigues Fidelis,  Claudia Weinman, Julia Saggiorato, Jilson Carlos Souza.

08/02 – terça-feira – 19h30

Encerramento – O segundo massacre na cidade santa do Taquarussu do Bonsucesso e o assassinato de Chica Pelega – Karoline Fin, Claudia Weinman.