Timbó Grande pertencia a Curitibanos, assim como boa parte do Planalto, nos tempos do conflito do Contestado. Lá também, se ergueu o último reduto de resistência do povo Caboclo, no Vale de Santa Maria. Esse lugar tão emblemático para a história do conflito, onde ocorreu a batalha que ficou conhecida como o genocídio da Páscoa, em 1915, recebeu, nos dias 11 e 12 de agosto, a Mostra de Cinema Chica Pelega que trouxe produções audiovisuais feitas por pessoas desta região com o intuito de exibir às novas gerações a sua história e aproximar pessoas do cinema.
Tivemos duas sessões no Auditório Bernardo Von Muller Bernek e outras duas na Escola de Educação Básica Machado de Assis. As sessões foram exibidas para estudantes da rede municipal e estadual, além de uma sessão noturna do longa-metragem Terra Cabocla da Plural Filmes aberta também para a comunidade.
Logo após as sessões, tivemos uma prosa excelente sobre a história e identidade do Contestado e seus paralelos com os filmes. A prosa foi mediada pelo caboclo, educador e comunicador popular Jilson Carlos Souza, integrante do Fórum Regional em Defesa da Civilização e da Cultura Cabocla do Contestado e da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC) de Fraiburgo.
Foram dois dias incríveis de trocas e agradecemos quem compareceu para assistir os filmes e também quem esteve envolvido na organização. Agradecemos especialmente: Adenilson e Ana Cláudia Hoffmann, que gentilmente nos hospedaram, a Associação Cultural Cabocla Filhos do Contestado que possibilitou que esse encontro acontecesse, especialmente, à Serli Lima, professora cabocla e liderança comunitária em Timbó Grande e Eliane Moreira pelo acolhimento.
Conheça os filmes que foram exibidos:
OS FILMES
TERRA CABOCLA – 2015 / 82 minutos / Direção: Márcia Paraíso e Ralf Tambke Produtora: Plural Filmes / Trailer – https://vimeo.com/120729920
Cem anos depois, o povo caboclo resiste. A visão de que Santa Catarina é um estado branco europeizado anula outras identidades que fazem parte da formação do estado catarinense. A Guerra do Contestado foi um dos conflitos mais sangrentos que aconteceu no Brasil. Na região do Planalto Catarinense ainda persistem caboclos, como é chamado o povo que ali habitava quando aconteceu a Guerra do Contestado, cultura e rituais ainda são mantidos. A Guerra é pouco discutida, pouco falada, o que acaba indicando uma opção política de silenciamento cultural. É a luta pela terra.
KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG – 2014 – 34 minutos/direção: Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt / Margot Filmes
Kiki é como é chamado o mais importante ritual da etnia indígena Kaingang. No passado era realizado anualmente, para que os falecidos recentes da aldeia fizessem uma boa passagem ao numbê – o mundo dos mortos. O ritual foi retomado em 2011 na aldeia Condá, no Oeste Catarinense, 10 anos depois da última vez que ele havia sido realizado, mostrando que a língua Kaingang resiste. A preparação da bebida levou mais de 10 dias. Os rostos pintados definem as duas metades: kamé e kainru-kré. O filme, depois de pronto, foi entregue na aldeia e distribuído para lideranças de diferentes povos na ONU, durante conferência em março de 2017, em Genebra, na Suíça. Foram feitas cópias em Kaingang, português, inglês e espanhol.
OLHAR CONTESTADO – 2012 / 15 minutos / direção: Fabianne Balvedi e Fernando Severo
A produção utiliza efeitos de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época. Fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais da “Guerra Santa do Sul”.
LARFIAGEM – 2017 / 18 minutos / Gabi Bresola / Ombu Produção e Magnolia Produções Culturais
Meninos que tinham entre 8 a 15 anos e faziam “bicos” em volta da Estação Ferroviária de Herval do Oeste nos anos 1950, a “boa malandragem”, como eles contam, durante as gravações para o documentário, já com seus 60, 70 anos, criaram uma forma própria de se comunicar. Uma forma que eles pudessem combinar o preço para levar as bagagens dos viajantes até o hotel ou engraxar os sapatos sem que os outros clientes pudessem entender. E assim poderiam cobrar preços diferenciados – conforme o cliente. Os falantes que participam do filme nos levam de volta ao universo particular que criaram quando crianças.