Percurso do Circuito de Cinema Chica Pelega – edição quilombola pelo litoral catarinense foi realizado com recursos do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2023.
O percurso começou em Santo Amaro da Imperatriz, região da Grande Florianópolis, no dia 8 de maio. Um encontro pra lá de especial para assistir filmes sobre a resistência do povo quilombola. E foi Terezinha Silva e Sousa, uma grande lutadora de quase 90 anos, que, contando sua história de vida, deu o tom do debate logo após a exibição.
“Eu lutei a vida toda para que vocês tivessem acesso ao que eu não tive. Eu tenho orgulho da nossa luta e não vou parar”, disse Terezinha ao público na maioria jovem da comunidade remanescente de quilombo de Caldas do Cubatão.
E foi com essa força ancestral de Terezinha que o Circuito de Cinema Chica Pelega – edição quilombola seguiu viagem por mais seis comunidades: Toca/Santa Cruz (Paulo Lopes), Morro do Fortunato e Aldeia (Garopaba), Ilhotinha (Capivari de Baixo), Morro da Queimada/Mocotó (Florianópolis) e Invernada dos Negros (Campos Novos).
Em escolas, espaços comunitários ou recebido no quintal da casa de moradores das comunidades, o circuito teve um público presencial de cerca de 230 pessoas. Somando aos acessos online, pois os filmes estão disponíveis na plataforma da Pupilo TV – play.pupilo.tv.br, foram mais de 600 pessoas envolvidas no percurso da edição pelo litoral catarinense, de 8 a 15 de maio. Por conta das chuvas intensas no período, duas comunidades mais ao sul de Santa Catarina não puderam receber o circuito: Maria Rosalina (Araranguá) e São Roque (Praia Grande).
Para Edson Camargo, coordenador estadual das comunidades quilombolas de SC, liderança na comunidade Invernada dos Negros e parte da organização da Mostra e do Circuito Chica Pelega, foi um momento muito especial para todos que vivenciaram as exibições e os debates. “Foi um espaço de cultura e muito aprendizado. As trocas de experiência marcaram cada comunidade onde estivemos e também nos marcaram para seguir nessa luta e para dizer: vivemos um tempo de esperançar. Acho que esse projeto nos trouxe principalmente isso, a possibilidade de esperançar o futuro do país e o futuro das comunidades quilombolas e de nossos povos. Debatemos passado, presente e futuro, conquistas e desafios a partir de cada comunidade e suas especificidades. Isso nos fortalece muito”, afirma Edson Camargo.
Alegria, troca e aprendizagem a partir do cinema
Vanda Pinedo, da comissão de curadoria e do Movimento Negro Unificado (MNU), que é parceiro da realização tanto da Mostra como do Circuito de Cinema Chica Pelega, também salientou a importância de levar cinema às comunidades. Para ela, os filmes fortalecem a defesa do território, a territorialidade, o entendimento do que é o quilombo, de como pensa e como vivem as comunidades quilombolas.
“Trazer esses filmes para nosso povo, que atravessa tantos problemas, é um momento de alegria, de troca, de cultura e de aprendizagem”, explica Vanda.
O percurso pelo litoral do Circuito de Cinema Chica Pelega – edição quilombola foi realizado com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, através da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), por meio do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2023.
Cultura e identidade quilombolas
Com uma programação 28 longas e curtas-metragens catarinenses e de outros estados, com filmes de ficção e documentário, dividida nos eixos curatoriais Resistência SC, Quilombos no plural, Visões do mundo ancestral, Memórias vivas, Fazer quilombola e Raízes em cena, o circuito trouxe reflexão sobre o passado, o presente e o futuro das comunidades quilombolas e também de personagens importantes da luta do povo negro, como Antonieta de Barros.
Chica Pelega, líder cabocla combatente na Guerra do Contestado, que aconteceu entre 1912 e 1916, em Santa Catarina, dá nome à mostra e ao circuito. E os filmes levaram às comunidades diferentes olhares e perspectivas das populações que constituem o caboclo da região do Contestado e das resistências quilombolas catarinenses e de outras regiões.
Público assistiu filmes de todo o país e produzidos em oficinas nas próprias comunidades
Filmes de todo o país fizeram parte do circuito. Obras como “Disque Quilombola” (documentário, 2012, 13min), dirigido por David Reeks, que mostra crianças do Espírito Santo conversando de um jeito divertido sobre como é a vida em uma comunidade quilombola e em um morro na cidade de Vitória, trouxeram memórias e emoção ao público do circuito.
Toda a programação apresentada pelo circuito faz parte da 3ª Mostra de Cinema Chica Pelega – edição quilombola, realizada em 2023. Composta por sessões online e presenciais, a Mostra passou por Fraiburgo, Capinzal, Monte Carlo e Campos Novos, em sete escolas e outros espaços.
Além disso, a oficina de cinema “O minuto que foi” conteceu em duas comunidades, ministrada pelo cineasta cubano Yasser Socarrás González, que resultou nos curtas “Luta e resistência”, “Nos batuques dos tambores: o sonho de muitos” e “A luta de um quilombola polinário”. Os curtas produzidos nos territórios também estiveram na programação do Circuito de Cinema Chica Pelega. Em Santa Catarina, existem 21 comunidades quilombolas, em 16 municípios, com uma população de mais de 4.500 pessoas.
Circuito de Cinema Chica Pelega – edição quilombola segue para o oeste catarinense
Entre 5 e 14 de junho toda a programação chega à região oeste de Santa Catarina, passando por seis municípios: Caçador, Videira, Joaçaba, Concórdia, Chapecó e Irani. No percurso para o oeste catarinense, o circuito conta com recursos do Prêmio Catarinense de Cinema – Edição Especial Lei Paulo Gustavo/2023, Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Governo do Estado de Santa Catarina, Ministério da Cultura e Governo Federal. Confira a programação do Circuito Oeste aqui.
Fotos por Gabi Bresola