Entre os dias 30 de abril e 21 de maio de 2024 estão abertas as inscrições para os locais que querem receber o Circuito Chica Pelega de Cinema.O Circuito é uma extensão da 3ª Mostra de Cinema Chica Pelega – edição quilombola, realizada em 2023, quando se destacou a cultura e a identidade das comunidades remanescentes quilombolas de Santa Catarina e do Brasil. Composto por uma seleção de filmes de longa e curta metragens de ficção e documentário, o Circuito visa promover a reflexão e o debate sobre a importância da cultura afro-brasileira e da luta pela preservação da memória quilombola.
Considera-se espaços adequados para a exibição os cineclubes, associações, institutos culturais e educacionais, escolas, universidades, organizações civis sem fins lucrativos (ONGs) e outro espaços que promovam atividades culturais e abertas ao público que disponha de projetor, sistema de som e internet banda larga.Entre os dias 24 e 31 de maio, define-se a programação para cada Espaço Exibidor, sendo que as sessões devem acontecer no mês de junho.
Sessões disponíveis
Os filmes que estão no catálogo da 3a Mostra de Cinema Chica Pelega podem ser conferidos no site www.chicapelega.com.br e estão divididos nos seguintes eixos temáticos:
FAZER QUILOMBOLA – A categoria exibe os três filmes resultantes das oficinas de cinema “O minuto que foi” mediada pelo cineasta Yasser Socarrás González como contrapartida da realização da mostra. As três narrativas trazem, em poucos minutos, questões de vivências dos remanescentes quilombolas no Oeste e Serra de Santa Catarina, produzidos por integrantes das comunidades remanescentes dos quilombos Invernada do Negros e Campo dos Poli.
RESISTÊNCIA SC – Nesta categoria de filmes apresentamos as narrativas catarinenses do passado e do presente que norteam as resistências diárias das populações remanescentes de quilombolas.
QUILOMBOS DO PLURAL – O que é um quilombo? Quem são os quilombolas? Quais os fazeres e saberes que permeiam essas relações? As produções desta categoria de diferentes regiões trazem as realidades diversificadas das comunidades quilombolas espalhadas pelo Brasil.
MEMÓRIAS VIVAS – Como se apagam as histórias de lutas de um povo? Diferentes realidades, muitos indícios, objetos e pessoas que vivenciaram e podem resgatar uma realidade através de suas lembranças. Esta categoria visibiliza pessoas e desdobramentos contemporâneos da Guerra do Contestado.
RAÍZES EM CENA – As lutas pelo bem da coletividade são gestadas, cuidadas e alimentadas como uma criança a ser direcionada para uma vida de prosperidade e alegria. Esta categoria focaliza o papel das mulheres como genitoras, protagonistas e articuladoras da luta em diferentes cenários.
Inscrições e Contato
Para se inscrever acesse o site https://chicapelega.com.br/ponto-de-exibicao ou em caso de dúvidas, entre em contato pelo e-mail: producao@chicapelega.com.br Junte-se a nós e mostre o poder transformador do cinema! Faça a diferença na sua comunidade promovendo acesso à cultura e ao cinema para um público diverso, e promova a valorização da cultura afro-brasileira e da luta quilombola.
Mostra de Cinema Chica Pelega
A Mostra de Cinema Chica Pelega surge no contexto catarinense, no espaço chamado de Vale do Contestado. Hoje, mais do que nunca, é importante pensar de forma contemporânea no que significam os resquícios não só do conflito do Contestado, mas também do que o antecede, na história colonial do Estado de Santa Catarina.
Além da história do lugar é importante pensar nesse contexto e na ideia da autoidentificação quilombola e cabocla, não como se tivesse meio que escamoteando uma identidade negra ou indígena que permeia no Meio Oeste catarinense, uma região extremamente racista, mas pensar de que forma nós podemos avançar nesse conceito e avançar nessa autoidentificação em todas as vezes que nos deparamos com as falas de indígenas nos contextos que trazem etnia e nas falas de remanescentes de comunidades quilombolas.
O que fica escondido neste codinome de caboclo? O que fica escondido na história? Que é por onde nós, às vezes, olhamos os materiais que apresentam e falam do estado do conflito e que a negritude e povos indígenas e demais povos ciganos não fazem parte deste contexto. Para estar nesse lugar, é preciso que estejamos nele identificados e trazendo o nosso processo identitário também de povos originários e povos africanos.
As identidades indígenas e negras de Santa Catarina foram apagadas e de forma proposital, o que quer dizer que elas não foram simplesmente invisibilizadas, elas foram realmente apagadas, tal como estabelece o pensamento da eugenia e limpeza étnico-cultural. A ponto que quando você chega em um outro estado que não seja da região Sul, as pessoas se espantam: “Como assim, tem quilombo?” “Tem indígenas em Santa Catarina?” “Como as pessoas negras estão colocadas nesse contexto?”
Então, quando encontramos a possibilidade de trazer à tona e de se fazer refletir sobre esse apagamento, esse racismo, essas violências,essas identidades que estão nesse estado, é uma possibilidade de avançar sobre as discussões. É uma possibilidade de colocar no cenário do debate as discussões que foram negadas, violentadas, tudo isso nós que vivemos até hoje. Esses cenários são muito potentes, muito importantes não só pelas questões que marcam o sofrimento dos povos, mas também para retomar práticas, lembrar elementos da cultura, a capoeira, os cantos religiosos, as sabedorias mantidas por pessoas mais velhas. E essa possibilidade aparece aqui utilizando o cinema como ferramenta, como uma linguagem possível para dar visibilidade e gerar conhecimento.
Por isso, criamos a Comissão Quilombola de Curadoria e desenvolvemos um diálogo que pudesse ampliar os filmes sobre o Contestado, já exibidos nas duas primeiras edições da Mostra Chica Pelega, trazendo outras histórias de figuras negras pelas quais as comunidades se identificam em seus passados históricos e nos seus acontecimentos presentes, em seus contextos menores de comunidades e também em suas lutas maiores, nas semelhanças com outros contextos do país.
Comunidades Quilombolas
Os quilombos surgiram na época da colonização brasileira como resposta à violência praticada pelos portugueses e, depois, por seus descendentes, contra os negros que foram trazidos à força para o Brasil, vindos da África. Os primeiros registros desse tipo de formação datam da década de 1570. Além da fuga imediata da opressão, o surgimento dos quilombos também foi uma afronta ao sistema escravista que vigorava. Essa organização do povo negro ajudou, mesmo que lentamente, a inviabilizar o sistema escravocrata. As comunidades davam suporte para as rebeliões, incêndios em plantações e resgate de cativos, fatores que ajudaram na busca pela abolição.
Símbolo da resistência negra no período da escravidão, os quilombos contemporâneos sofrem com o legado de desigualdades deixado pelo período colonial. Isso por causa da falta de acesso à terra e a políticas públicas básicas como saúde e educação. Ao devolver as áreas de acesso à terra, o Incra busca estabelecer um procedimento de justiça e resgate das tradições das famílias que agora retornam às suas terras.
De acordo com dados do IBGE (2022), são 494 territórios quilombolas espalhados pelo Brasil. Apenas os estados do Acre e Roraima não foram identificados quilombolas. Em Santa Catarina, são 4.447 quilombolas habitando em 28 dos 295 municípios do estado.