Compartilhamos com vocês nosso catálogo com tudo o que aconteceu nesta edição mostra.
Dentro dentro dele, você encontra um conteúdo diverso, destacamos alguns: – Texto exclusivo da curadoria. – Texto inédito do mediador da oficina de cinema “O minuto que foi”, Yasser S. González. – Fotos de Luana Callai (Janela Verde) que capturam os momentos maravilhosos que tivemos tanto nas oficinas como nas sessões de exibição. – Lista completa de todos os filmes exibidos na nossa mostra. – Programação completa presencial e online com links para os filmes e lives que aconteceram!
Não deixe de compartilhar suas impressões conosco. Juntos, vamos intensificar nosso amor pela sétima arte que amplifica vozes quilombolas e suas histórias autênticas.
Agradecemos mais uma vez quem se envolveu e contribuiu de alguma forma com a 3ª Mostra de Cinema Chica Pelega – edição quilombola. Já estamos ansiosos para a próxima edição.
Se você já acessou a programação e a lista de filmes da Mostra Chica, deve ter visto a categoria “Fazer quilombola”, nela estão três curtíssimas-metragens de 2023 e são de Santa Catarina. Esses três filmes que estrearam nesta edição da mostra foram produzidos entre maio e junho deste ano a partir da oficina “O minuto que foi” nas comunidades de remanescentes quilombolas Invernada dos Negros e Campo dos Poli. Foram dois finais de semana e algumas horas depois nas quais os participantes assistiram exemplos de produções audiovisuais e compartilharam ideias em coletivo para a produção dos seus filmes.
Quem ministrou a oficina foi Yasser Socarrás González que já havia realizado esse modelo de oficina em Cuba e repetiu a experiência nas comunidades da Serra e meio Oeste de Santa Catarina. No processo percebeu-se a importância do povo como protagonista na frente mas também detrás das câmeras onde puderam imprimir suas ideias subjetividades e escolhas.
Preparamos videos de making of de cada comunidade, acompanhe como foi:
Fazer quilombola neste título representa tanto o modo de fazer da cultura, de contar história e também de fazer cinema. Os três filmes resultantes das oficinas que ocorreram como contrapartidas da Mostra, estarão disponíveis até o dia 31 de julho, para assistir gratuitamente na Pupilo, juntamente com outros 25 filmes que também dialogam com diferentes olhares e contextos quilombolas brasileiros.
Breves palavras sobre a nossa identidade visual como provocação para um olhar detalhado para a cultura quilombola do meio oeste catarinense
Quando pensamos na identidade visual desta edição da mostra, consideramos a riqueza e a importância da visualidade que compõe a cultura e a formação da história dos quilombos da região do Contestado. Partimos da colagem criada pela artista Kika Chmura para a segunda edição, acrescentamos ícones que representam as comunidades quilombolas e adaptamos as imagens com aspectos mais gráficos. Sob a consultoria da Comissão Quilombola de Curadoria, de Vanda Pinedo, da professora Luana Fadani e da pesquisa de uma de nossas produtoras, Pâmela Enmerich, iniciamos esse diálogo e o processo das mudanças necessárias para a nova identidade. A designer Magalhãez foi quem reuniu todas as ideias e traduziu para a identidade final que vocês podem conferir em nossas peças gráficas, redes e no site.
Nas imagens abaixo, você vai encontrar alguns significados dos elementos que estão presentes na identidade visual deste ano.
A mulher que carrega o nome da mostra é Chica Pelega, nesta edição representa a população quilombola. A existência de Chica é, historicamente, posterior à formação dos quilombos, e o que aproxima esses dois acontecimentos é a luta pela terra, paz e liberdade A jovem líder, com nome de Francisca Roberta defendeu seu povo e sua terra em uma das maiores disputas de território do país, o conflito do Contestado, permanece na história como uma lenda, da qual não se tem registro de como era sua aparência, o que nos permite imaginá-la de diferentes maneiras a partir de sua personalidade cheia de força, determinação e coragem.
Nesta representação, ela segura uma cabaça ou porongo, item com diversos usos para a população quilombola. A cabaça é um fruto que traz em si utilidades cotidianas, em cerimônias religiosas, na arte, na música e pode nos surpreender sempre com seus múltiplos usos e sentidos. as partes de um universo amplo de práticas e tradições culturais da população quilombola e também indígena, tendo sua origem apontada para a África¹.
Podemos citar alguns dos usos como recipiente para líquidos, tigelas, cumbucas, na fabricação de instrumentos musicais como atabaques, maracás, chocalhos, xequerês, berimbaus dentre muitos outros. Na região do Contestado assim como em todo sul do nosso país, a cabaça é passada de mão em mão na forma de cuia onde carrega o chimarrão, bebida à base de erva-mate, uma herança indígena tão popular e consumida por todos, que muitas pessoas não fazem a menor ideia de sua origem ou do hábito de uso.
Se a natureza, conforme sugeriu o antropólogo Claude Lévi-Strauss, constitui uma fonte inegável de recursos materiais, assim como um objeto de pensamento que se presta às mais ricas possibilidades, então a cabaça, em suas várias formas de ocorrência no território brasileiro, é, sem dúvida, um fruto bom para usar, mas também para pensar.²
Uma pulseira de lágrima-de-nossa-senhora adorna o pulso da mulher, planta que carrega outros nomes também: capim-de-contas, contas-de-rosário, lágrima-de-jó, capim-rosário, capim-missanga, capiá, biurá, biuri… Muito popular entre quilombolas, indígenas e população rural, é utilizada de diversas formas. Na medicina nativa e ancestral é usada desde o caule até seus frutos que podem ser também alimento, na forma de uma farinha nutritiva para preparo de pães, biscoitos e também outros pratos como sopas e mingaus. A forma mais conhecida dos frutos/sementes é na confecção de terços, adornos como pulseiras, braceletes, colares, objetos de arte e instrumentos musicais.
A terra que ocupa a imagem de ponta a ponta é a razão de tudo. É por ela que a luta se fez e ainda acontece, ela é caminho para a emancipação de pessoas e para a transformação social. Quilombolas, indígenas, imigrantes e remanescentes do conflito do Contestado compartilham, em suas devidas proporções, da luta pelo reconhecimento do território que há muito habitam.
Araucárias firmes se erguem imponentes e inconfundíveis sobre as montanhas,. Com cerca de 200 milhões de anos, ela pode passar de 50 metros de altura e sua casca pode chegar até 18 centímetros de espessura. No Brasil, é encontrada majoritariamente na região sul, sendo através dos anos uma fonte essencial de cultura e alimento para povos originários e quilombolas. Suas folhas e cascas são utilizadas em rituais e práticas da medicina natural, já suas sementes comestíveis, os pinhões, são alimento nutritivo para pessoas e animais. É preciso pontuar que essa árvore lendária ocupa atualmente 3% de sua área original e corre risco de ser extinta como resultado da ignorância humana até 2070³. Conhecida como árvore do tempo dos dinossauros ou árvore fóssil, a araucária sem dúvida simboliza a cultura quilombola da região do Contestado por sua resistência, força e relevância.
Outros elementos foram usados de apoio na composição de peças para a mostra. O primeiro deles é a pinha. A araucária não tem fruta, ela produz a pinha, podendo pesar até um pouco mais de três quilos, que guarda dentro dela até 100 sementes de pinhão, alimento essencial na culinária ancestral quilombola e indígena do meio oeste catarinense. Alguns dos preparos do pinhão são: em sopas, assado na chapa, como entrevero onde ele é misturado com carnes e preparado em disco de arado, cozido em água ou na famosa paçoca de pinhão, antigamente socada no pilão. Os pilões desta região, predominantes nas comunidades quilombolas antigas e atuais e também nos povos originários, são feitos, geralmentes a partir do tronco de árvores, usados com a finalidade de moer, misturar e descascar alimentos e nos lembrar a subsistência e a prática alimentar rica e ancestral.
O cesto é feito de bambu taquara, uma espécie nativa exclusiva da América do Sul, é trançado artesanalmente e tem as mais variadas utilidades possíveis. O bambu taquara é usado em outras artes também como matéria prima para fabricação de ferramentas de trabalho e até como estrutura na construção de casas pelas comunidades quilombolas e povos indígenas.
Por fim, o objetivo da identidade visual é disseminar e valorizar a cultura quilombola para que a região do meio oeste catarinense compreenda que a luta quilombola pela terra e pela existência é de todas as pessoas. Conta pra gente o que achou da identidade visual da 3ª Mostra de Cinema Chica Pelega – edição quilombola!