No mês de março visitamos as comunidades quilombolas Campo dos Poli e Invernada dos Negros, em Fraiburgo, Campos Novos e Monte Carlo…
Timbó Grande recebe a 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega
Timbó Grande pertencia a Curitibanos, assim como boa parte do Planalto, nos tempos do conflito do Contestado. Lá também, se ergueu o último reduto de resistência do povo Caboclo, no Vale de Santa Maria. Esse lugar tão emblemático para a história do conflito, onde ocorreu a batalha que ficou conhecida como o genocídio da Páscoa, em 1915, recebeu, nos dias 11 e 12 de agosto, a Mostra de Cinema Chica Pelega que trouxe produções audiovisuais feitas por pessoas desta região com o intuito de exibir às novas gerações a sua história e aproximar pessoas do cinema.
Tivemos duas sessões no Auditório Bernardo Von Muller Bernek e outras duas na Escola de Educação Básica Machado de Assis. As sessões foram exibidas para estudantes da rede municipal e estadual, além de uma sessão noturna do longa-metragem Terra Cabocla da Plural Filmes aberta também para a comunidade.
Logo após as sessões, tivemos uma prosa excelente sobre a história e identidade do Contestado e seus paralelos com os filmes. A prosa foi mediada pelo caboclo, educador e comunicador popular Jilson Carlos Souza, integrante do Fórum Regional em Defesa da Civilização e da Cultura Cabocla do Contestado e da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC) de Fraiburgo.
Foram dois dias incríveis de trocas e agradecemos quem compareceu para assistir os filmes e também quem esteve envolvido na organização. Agradecemos especialmente: Adenilson e Ana Cláudia Hoffmann, que gentilmente nos hospedaram, a Associação Cultural Cabocla Filhos do Contestado que possibilitou que esse encontro acontecesse, especialmente, à Serli Lima, professora cabocla e liderança comunitária em Timbó Grande e Eliane Moreira pelo acolhimento.
Conheça os filmes que foram exibidos:
OS FILMES
TERRA CABOCLA – 2015 / 82 minutos / Direção: Márcia Paraíso e Ralf Tambke Produtora: Plural Filmes / Trailer – https://vimeo.com/120729920
Cem anos depois, o povo caboclo resiste. A visão de que Santa Catarina é um estado branco europeizado anula outras identidades que fazem parte da formação do estado catarinense. A Guerra do Contestado foi um dos conflitos mais sangrentos que aconteceu no Brasil. Na região do Planalto Catarinense ainda persistem caboclos, como é chamado o povo que ali habitava quando aconteceu a Guerra do Contestado, cultura e rituais ainda são mantidos. A Guerra é pouco discutida, pouco falada, o que acaba indicando uma opção política de silenciamento cultural. É a luta pela terra.
KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG – 2014 – 34 minutos/direção: Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt / Margot Filmes
Kiki é como é chamado o mais importante ritual da etnia indígena Kaingang. No passado era realizado anualmente, para que os falecidos recentes da aldeia fizessem uma boa passagem ao numbê – o mundo dos mortos. O ritual foi retomado em 2011 na aldeia Condá, no Oeste Catarinense, 10 anos depois da última vez que ele havia sido realizado, mostrando que a língua Kaingang resiste. A preparação da bebida levou mais de 10 dias. Os rostos pintados definem as duas metades: kamé e kainru-kré. O filme, depois de pronto, foi entregue na aldeia e distribuído para lideranças de diferentes povos na ONU, durante conferência em março de 2017, em Genebra, na Suíça. Foram feitas cópias em Kaingang, português, inglês e espanhol.
OLHAR CONTESTADO – 2012 / 15 minutos / direção: Fabianne Balvedi e Fernando Severo
A produção utiliza efeitos de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época. Fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais da “Guerra Santa do Sul”.
LARFIAGEM – 2017 / 18 minutos / Gabi Bresola / Ombu Produção e Magnolia Produções Culturais
Meninos que tinham entre 8 a 15 anos e faziam “bicos” em volta da Estação Ferroviária de Herval do Oeste nos anos 1950, a “boa malandragem”, como eles contam, durante as gravações para o documentário, já com seus 60, 70 anos, criaram uma forma própria de se comunicar. Uma forma que eles pudessem combinar o preço para levar as bagagens dos viajantes até o hotel ou engraxar os sapatos sem que os outros clientes pudessem entender. E assim poderiam cobrar preços diferenciados – conforme o cliente. Os falantes que participam do filme nos levam de volta ao universo particular que criaram quando crianças.
2ª Mostra de Cinema Chica Pelega chega a Fraiburgo
No sábado, dia 13 de agosto de 2022, o Instituto Federal Catarinense (IFC) de Fraiburgo recebeu a Mostra de Cinema Chica Pelega. Foi um momento de encontro dos estudantes do Ensino Médio e da Escola de Jovens e Adultos (EJA) com a sua própria história, com as suas origens. A programação do evento trouxe produções que retratam o conflito do Contestado (1912-1916) que teve embates importantes na região de Fraiburgo.
Foram exibidos três curtas-metragens. O primeiro, Kiki, o Ritual da Resistência Kaingang (2014), da Margot Filmes, de Chapecó, que mostra a retomada do ritual indígena mais tradicional do território Condá, que não era feito há 10 anos. No filme é mostrado cada passo desta tradição, o que muitos sequer conheciam.
Na segunda produção, Olhar Contestado (2012), dirigida pela joaçabense Fabianne Balvedi e pelo caçadorense Fernando Severo, são feitas animações de câmeras virtuais sobre registros fotográficos de Claro Jansson – fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber – ilustrações e desenhos fotocopiados sobre documentários da época.
E, finalmente, Larfiagem (2017), da hervalense Gabi Bresola, que retoma parte do que é também a sua história, quando junta aqueles que foram os criadores da conhecida língua que era falada às margens da ferrovia. Nos anos 1950, um grupo de meninos, então com 8 a 15 anos que faziam bicos como engraxar sapatos ou carregar malas dos viajantes, inventaram um jeito de se comunicar para que pudessem fazer as suas tratativas de crianças levadas, ou “malandros”, como eles se reconheciam. São eles mesmos, com 60, 70 anos, que contam estas histórias.
Sabendo da importância de debater coletivamente o que assistimos, após as sessões, aconteceram conversas mediadas pelo caboclo, educador e comunicador popular Jilson Carlos Souza, integrante do Fórum Regional em Defesa da Civilização e da Cultura Cabocla do Contestado e da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC) de Fraiburgo.
Nosso muito obrigada a quem compareceu e colaborou com a construção da Mostra. Agradecemos especialmente o Prof. Rodrigo Cabral do IFC.
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2ª Mostra de Cinema Chica Pelega aguça o olhar para os povos da região do Contestado
Depois de passar por Campos Novos (11), Curitibanos (18) e Caçador (25) arrebatando 1790 estudantes de 70 turmas de 26 escolas estaduais e municipais, além do público espontâneo que pôde acompanhar as sessões abertas e gratuitas, à noite, sempre no Cine Lúmine, podemos garantir que a 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega foi um sucesso. O Projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba.
Foram oferecidas duas sessões-escola de manhã e duas de tarde para turmas de 8o, 9o e 3o anos de escolas públicas dos municípios e Gerências Regionais de Educação (GERED) por onde a Mostra passou. Desta forma, pôde-se unir a experiência do audiovisual com as necessidades educacionais de ensino a respeito da Guerra do Contestado, conteúdo este relacionado aos filmes.
Sob a curadoria do cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, foram exibidos os curta-metragens Irani, do Rogério Sganzerla (1983); Olhar Contestado, de Fabianne Balvedi e Fernando Severo (2015) e Larfiagem (2017), de Gabi Bresola. O primeiro curta-metragem é um registro em Super 8, câmera na mão, de um desfile cívico em homenagem à Guerra do Contestado, onde o cineasta filma de perto os cavalos e o discurso do folclorista Vicente Telles a respeito daquele conflito que teve sua batalha inicial naquele município. Já o filme de Fabianne Balvedi resgata as fotos do fotógrafo Claro Gustavo Jansson, o profissional contratado pela madeireira Lumber, para retratar a Guerra. Ela faz animação usando software livre e desta forma muda a percepção a respeito do caboclo. E finalmente, Larfiagem é o nome do linguajar criado em Herval d´Oeste, quarenta anos depois da guerra, por meninos que trabalhavam na estação ferroviária e quem conta a história são seus criadores, agora com 60, 70 anos.
Além destes, à noite, foi exibido o longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf Tambke, na sessão aberta ao público. O documentário é gravado em Fraiburgo e Lebon Régis, e mostra a fé cabocla das joaninas e joaninos, os devotos a São João Maria. Eles vivem os resquícios do Contestado, lembram o massacre e as almas que se perderam na guerra; as lutas que ainda estão de pé: pela terra, pela dignidade, pela vida.
Durante os debates, ao mesmo tempo que se externava uma gratidão por se trazer à tona um assunto tão importante e latente, que é o perceber-se como caboclos e caboclas, que é entender o seu jeito popular de falar, a história para além da historiografia oficial, é pensar quem faz este resgate e como ele é proposto, um grupo de artistas, que trabalha na periferia de Caçador, falam sobre a sua luta para ganhar visibilidade. Eles relatam a facilidade de brancos descendentes de europeus fazerem este debate em detrimento de pretos, pobres e caboclos, que ainda têm para eles ocultos estes espaços. Mesmo com todas as possibilidades de recursos postos à disposição para tanto. Foi uma conversa rica em elementos e um debate para ser estendido para outros espaços de atuação.
Já houve convites de outros municípios para que uma Terceira edição da Mostra de Cinema Chica Pelega percorra outros caminhos dentro da região onde ocorreu a Guerra do Contestado. Interessados podem entrar em contato com a equipe de produção por meio deste link
2ª Mostra de Cinema Chica Pelega faz encerramento em Caçador
A 2a Mostra de Cinema Chica Pelega chega ao seu destino final. Passaram pelo Cine Lúmine de Campos Novos (11) e Curitibanos (18) mais de 1300 estudantes de 22 escolas públicas e uma privada dos municípios de Campos Novos, Curitibanos, Monte Carlo e Brunópolis. O motivo? Assistir a filmes de curtas metragens de cineastas e produtores catarinenses com temáticas envolvendo a Guerra do Contestado. Na segunda-feira, dia 25 e terça, 26, será a vez de Caçador (Queluz – Rua Onio Pedrassani,645 – Centro). Na segunda-feira (25), às 19h30, a sessão é gratuita e aberta ao público. O Projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba.
A Mostra leva o nome da guerreira Chica Pelega, a Francisca Roberta, resgatada por meio da memória oral do Conflito do Contestado e também propõem, por meio do cinema, uma valorização da cultura oral do povo caboclo, e uma tentativa de reparação histórica, visto que os livros didáticos – ou a historiografia oficial – pouco fala sobre quem perdeu a guerra – chamada de genocídio pelo historiador Vicente Telles: “É canhão contra facão, isso é guerra ou genocídio?”.
A Guerra do Contestado (1912-1916) foi o conflito civil mais sangrento que aconteceu na história do Brasil. Naquele tempo, o governo brasileiro entregou uma faixa de terra de 15 quilômetros a cada margem da ferrovia São Paulo X Rio Grande para o capital estrangeiro, liberando a exploração principalmente da madeira, que era farta. As pessoas que ali moravam e plantavam para as suas subsistências foram expulsas de suas terras – as quais não tinham um papel que lhes desse propriedade. E isso dava o direito ao capital estrangeiro de matá-los se fosse preciso para garantir essa posse.
Durante a Mostra, os horários diurnos, os estudantes irão assistir a quatro curtas-metragens de diferentes décadas com o propósito de unir as atividades escolares e o cinema. Os filmes são: Irani (1983), do Rogério Sganzerla , Olhar Contestado (2012), da Fabiane Balvedi e Fernando Severo e Larfiagem (2017), de Gabi Bresola.
Na sessão noturna, o público assistirá ao longa-metragem Terra Cabocla (2015) de Márcia Paraíso e Ralf Tambke e a dois curtas metragens – Olhar Contestado (2012), o e Irani (1983).
Os filmes, com curadoria do cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, são curtas-metragens com duração média de 15 minutos, ideal para sala de aula, questionando as fotografias oficiais da guerra e abordando idioma criado por hervalenses 40 anos depois do conflito para se comunicar na estação ferroviária, a conhecida grinfia ou Larfia. O filme mais curto é uma homenagem ao renomado diretor joaçabense Rogério Sganzerla, que tinha uma ligação também com aquele lugar onde iniciou a guerra. Após a exibição haverá debate mediado pelos convidados.
Serviço
Dia 25 de abril – segunda-feira
Horário: 19h30
Local: Cine Lúmine / Queluz
Rua Onio Pedrassani,645 – Centro – Caçador
Programação e ingressos em www.chicapelega.com.br
Curitibanos revisita sua identidade cabocla em Mostra de Cinema com foco na Guerra do Contestado
Mais de 100 anos se passaram e a Guerra do Contestado (1912-1916) está sendo revisitada, debatida e questionada por seus descendentes por meio da relação cinema e educação. A 2a Mostra de Cinema Chica Pelega levou 632 estudantes de 12 escolas – oito estaduais, três municipais e uma particular – ao Cine Lúmine, em Curitibanos, nos dias 18 e 19 de abril. Durante as cinco sessões diurnas, todas acompanhadas de debate, os estudantes puderam assistir a três curtas-metragens: Olhar Contestado (2012), de Fabianne Balvedi e Fernando Severo; Irani (1983), de Rogério Sganzerla e Larfiagem (2017), de Gabi Bresola. Na sessão noturna, teve também a exibição do longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf Tambke. Produção da Pupilo TV e da VMS Produções. Realização: Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc.
Durante o bate-papo, o professor Jilson Carlos Souza, da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC), de Fraiburgo, comentou com os estudantes sobre a origem do nome Curitibanos – Homens que vem de Curitiba. Estes homens, segundo ele, faziam o tropeirismo de gado, ou seja, conduziam os animais do Rio Grande do Sul até o centro econômico do Brasil, que naquela época era Sorocaba, no interior de São Paulo. A palavra Curitiba tem origem tupi-guarani – Cidade das Araucárias. E assim, os homens que viajavam até Curitiba, fundaram uma cidade no meio do caminho, antes de chegar na cidade das Araucárias. Por ser este lugar de passagem, Curitibanos é o espaço também que deu origem a outros conflitos agrários desta época.
A partir desta introdução, o educador popular contou o que ele considera um dos episódios mais interessantes da Guerra do Contestado e que fica localizado há 800 metros de onde acontecia a 2a Mostra de Cinema Chica Pelega – Contestado em Foco. “Cansados de apenas se defenderem dos ataques, os caboclos e caboclas resolvem também atacar. Eles incendiaram o cartório e a Igreja. No entanto, eles não buscavam vingança, não queriam o sangue dos seus matadores, eles queriam justiça. Ninguém morreu. Os prédios estavam vazios, Apenas foram queimados e eliminados os registros, os papéis, os documentos que davam direito de posse às terras – o que dava direito a matar”, disse ele ainda acrescentando:
Para nós caboclos e caboclas, a nossa relação com a terra não é de exploração, é de pertencimento. A terra é nossa mãe, ela é o que nós chamamos de pachamama, a grande mãe. E pros brancos que aqui chegaram e passaram a ter o título de terra, e por isso eles podiam expulsar os caboclos de suas terras, a relação é de exploração da terra. Isso denota que a nossa história não começou há 60, 70, 100 anos atrás, com os imigrantes. Ela começou há pelo menos 10 mil anos, com as nações indígenas. Não foi o homem branco que nos ensinou a comer aipim, pinhão, foi o indígena. E é dessa história que nós estamos falando nesses filmes.
Por meio da parceria entre a 2 Mostra de Cinema Chica Pelega Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) campus de Curitibanos, foi possível a participação do professor Paulo Pinheiro Machado, autor de Lideranças do Contestado (2004), Guerra Santa Revisitada (2008), Rebeldes do Contestado (2016) e coordenador do grupo de pesquisa sobre o Contestado. Para ele:
A resistência contra a expropriação de ferrovias existia em todo o Brasil e em toda a América Latina. Essa concessão que dava terra em cada lado da linha de ferro não era só no Contestado. Estradas em outros lugares do Brasil impactavam sobre comunidades da mesma forma, mas não aconteceu a Guerra do Contestado em todo lugar. Aqui houve a união de vários elementos culturais subjetivos que viabilizaram esta forma de resistência e de organização da população. É isso que a gente precisa entender. A luta contra o coronelismo, contra a ferrovia que causava todo aquele impacto ambiental e social, são elementos muito além das questões regionais. São elementos nacionais. A discussão sobre o coronelismo não era uma discussão só do meio oeste de Santa Catarina, era um problema do Brasil inteiro. E ainda é.
O professor Paulo Pinheiro insiste que o contexto agrário no Contestado é de resistência à expropriação.
Eles já eram posseiros. Até os grandes fazendeiros não tinham título de propriedade. O contexto hoje é de reconquista do território perdido. A luta pela Reforma Agrária hoje se comunica com o Contestado, assim como se comunica com as missões Jesuíticas. Há vários descendentes de imigrantes nos redutos.
Mas, afinal, quem é o povo caboclo?
Os estudantes ficaram curiosos ao ver os filmes, ao ouvir as histórias relatadas pelo professor Jilson Souza, a respeito da participação de Curitibanos na Guerra do Contestado, dos ajuntamentos, então chamados de Cidades Santas. Mas quem são então estes caboclos
O caboclo e a cabocla somos todos nós: o preto, o índio e o branco pobre Esse povo misturado, que resistiu e nos trouxe até aqui. Nós só estamos vendo esses filmes e dialogando sobre o Contestado porque nós somos descendentes, nós somos continuadores da história do Contestado. Hoje em outras trincheiras. Naquele momento, eles tiveram que enfrentar canhão, avião, metralhadora alemã. Hoje, a nossa tarefa é enfrentar a tentativa de esquecimento, de apagamento da história, de quem nós somos e o que somos. E ser caboclo é um grupo social formado por pelo menos três etnias: indígena, negra e branca.
A guerra podia ter sido evitada
O professor Paulo Pinheiro Machado destacou uma fala do professor Rogério, dentro do filme Terra Cabocla (2012), quando ele afirma que a guerra contra o próprio povo não é uma fatalidade, é uma decisão política. Ela podia ter sido evitada e a matança não teria acontecido:
Possivelmente Taquarussu hoje fosse uma espécie de Juazeiro do Norte, vendendo fitinhas de João Maria, tendo uma romaria anual… Juazeiro do Norte teve mediações políticas que impediram o ataque. Padre Cícero era um coronel, ele estava na política oligárquica, influenciava na política nacional e regional. Aqui no Contestado eles não tinham nenhum tutor, nenhum coronel que fizesse esse tipo de mediação. E aquela concentração de pobres foi vista como uma ameaça à ordem estabelecida. Foram sistematicamente atacados e a Guerra se estabeleceu.
Ao final de cada sessão, de cada participação, de cada nova escola, de cada novo município da região do Contestado por onde a 2 Mostra Chica Pelega tem passado percebe-se que a história é latente. As reflexões sobre a guerra são também sobre a vida e a reconquista da terra. Esta edição se encerra na próxima parada, em Caçador, nos dias 25 e 26 de abril, no Cine Lúmine. Até lá.
Mais de 700 estudantes da rede pública comparecem à 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega em Campos Novos
A estreia da 2a Mostra de Cinema Chica Pelega aconteceu na última segunda-feira, dia 11 de abril em Campos Novos. Foram exibidos três curtas-metragens em quatro sessões-escola e uma sessão noturna aberta ao público, com um curta e um longa-metragem. Todas elas com entrada gratuita. O projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc, com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba. Nas próximas semanas, a Mostra passará ainda pelos municípios de Curitibanos (18) e Caçador (25).
De manhã,354 estudantes das redes públicas municipal – Prof. Nair da Silva Gris (CAIC); Sta Julia Billiart; Novos Campos – e estadual – Paulo Blasi e Prof. Antonia Correa Mendes, Henrique Rupp e Gasparino – de Campos Novos assistiram aos curtas-metragens Olhar Contestado(2015), de Fabianne Balvedi e Fernando Severo; Irani (1983), de Rogério Sganzerla e Larfiagem (2017) de Gabi Bresola, em duas sessões (8h30 e 10h).
À tarde, as Escola Estaduais Henrique Rupp e Gasparino, o CAIC a Santa Julia Billiart mandaram outras turmas. Além delas, ainda compareceram a Escola de Educação Básica Professora Virginia Paulina da Silva Gonçalves, de Monte Carlo. Na soma, foram 228 alunos, divididos em duas sessões – às 14h e às 15h30, para assistirem e debaterem os filmes apresentados na 2a Mostra de Cinema Chica Pelega, no Cine Lúmine.
Fechando a programação, às 19h30, a última sessão, aberta ao público, contando com a presença de 135 estudantes do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) de Campos Novos e Monte Carlo, além de outros interessados em conhecer os filmes que retratavam os temas referentes à Guerra do Contestado e à cultura cabocla.
Entre os interessados, estava o ex-senador da República, Dirceu Carneiro, e a esposa, Terezinha, moradores da região. Eles chegaram cedo e acompanharam a exibição de Kiki, o Ritual de Resistência Kaingang (2012), de Ilka Goldsmith e Cassiano Vitorino, da Margot Filmes de Chapecó, e de Terra Cabocla (2015) de Marcia Paraiso e Ralf Tambke, da Plural Filmes.
Ao final de cada sessão – manhã, tarde e noite – houve debate sobre os temas levantados pelos filmes. Durante o dia, com a participação do professor Jilson Souza, caboclo, educador e comunicador popular, integrante do Fórum Regional em Defesa da Civilização e da Cultura Cabocla do Contestado e da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC). Para o debate da noite, contamos com a participação também de João Maria Chaves dos Santos, assentado no MST em Campos Novos, pesquisador oral das lutas pela terra, descendente de caboclos.
Os estudantes não se sentiram intimidados em perguntar. Queriam saber sobre a formação dos povos originários, a construção e o porque não se mantém atualmente ativa a estrada ferro, interessaram-se muito pela “larfia”, a língua criada em Herval do Oeste pelos meninos que trabalhavam na Estação Ferroviária, retratados no filme de Gabi Bresola.
Muitos deles nunca tinham ido ao cinema, segundo o relato das professoras. Não nos constrangemos com esta pergunta. Mas estava em seus olhos. Brilhavam. Suas almas pareciam sair do corpo e ir em direção à tela, em direção ao sonho.
Fotos: Luana Callai Fotógrafa
OS FILMES
TERRA CABOCLA (Marcia Paraiso e Ralf Tambke, 2015, 82m) Um povo simples, de crenças e rituais tradicionais habita a região do Planalto Catarinense. Símbolos de uma forte resistência cultural, os caboclos enfrentaram uma guerra de extermínio há 100 anos atrás, quando sofreram severos ataques de grandes fazendeiros, do Estado e das oligarquias que estavam de olho nas terras que o grupo ocupava. Apesar da Guerra do Contestado ter quase dizimado a cultura local, o povo caboclo conseguiu se reerguer e mantê-la viva até os dias atuais. Llink para download do cartaz do filme.
KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG (Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, 2014, 34m) Kiki é o ritual mais importante da etnia indígena. Foi realizado em 2011 na Aldeia Condá Chapecó/SC). De forma cronológica, são mostrados os preparativos na mata e na aldeia. A realização do ritual foi uma tentativa de revitalizar e fortalecer o dualismo Kaingang. O filme mostra, também, como a língua kaingang ainda hoje representa um importante signo dessa cultura, demonstrando que os indígenas mantêm sua identidade apesar da violência do contato com outras etnias. Link para download do cartaz do filme
IRANI (Rogério Sganzerla, 1983 – 8 m) O cineasta, com a câmera na mão, se mistura aos personagens da festa que marca o aniversário da Guerra do Contestado, na cidade de Irani. Uma câmera que se aproxima de frente aos cavalos, que imprime movimentos circulares, estabelece uma gramática que emerge, a partir da encenação que a população da cidade constrói. O filme é a sua maneira de olhar para o seu passado a fim de constituir uma história que lhe represente.
OLHAR CONTESTADO (Fabianne Balvedi e Fernando Severo, 2012, 15m) A animação de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais daquela que ficou conhecida como “Guerra Santa do Sul”. “O Contestado ainda é uma guerra cheia de interrogações, cheia de dúvidas, do que realmente aconteceu. Além do importante caráter histórico/documental, o filme se destaca pelo fato de ser aberto (filme e fontes disponibilizados livremente) e ter sido produzido com ferramentas livres.)
LARFIAGEM (Gbi Bresola, 2017, 18m) Engraxates, carregadores de malas e outras crianças de 7 a 15 anos de idade conviviam com viajantes da estação ferroviária de Herval d’Oeste (SC), nos anos de 1950. Para sobreviver, comprar gibis e ir ao cinema, driblar fiscais, policiais e até os próprios pais, inventaram uma língua própria. Hoje, décadas depois,a Larfiagem aparece como memória de seus últimos falantes, agora septuagenários, mas que ainda conhecem, ensinam e decifram os segredos de seus substantivos e pronomes.
Depois do sucesso da estreia, chegou a vez de Curitibanos receber a 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega
A 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega teve a sua estreia no dia 11 de abril no Cine Lúmine, em Campos Novos, onde mais de 700 estudantes da rede pública municipal e estadual tiveram acesso a filmes de cineastas e produtores catarinenses com temáticas envolvendo a Guerra do Contestado. Na segunda-feira, dia 18, será a vez de Curitibanos (Cine Lúmine – Queluz – Rua Lages, 17).
Desta forma, une-se educação e cinema e se começa a pensar a partir do olhar e da percepção de cada um a respeito da sua identidade regional. O Projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba.No dia 25, encerra-se o evento, em Caçador.
A Mostra leva o nome da guerreira Chica Pelega, a Francisca Roberta, resgatada por meio da memória oral do Conflito do Contestado e também propõem, por meio do cinema, uma valorização da cultura oral do povo caboclo, e uma tentativa de reparação histórica, visto que os livros didáticos – ou a historiografia oficial – pouco fala sobre quem perdeu a guerra – chamada de genocídio pelo historiador Vicente Telles: “É canhão contra facão, isso é guerra ou genocídio?”.
A Guerra do Contestado (1912-1916) foi o conflito civil mais sangrento que aconteceu na história do Brasil. Naquele tempo, o governo brasileiro entregou uma faixa de terra de 15 quilômetros a cada margem da ferrovia São Paulo X Rio Grande para o capital estrangeiro, liberando a exploração principalmente da madeira, que era farta. As pessoas que ali moravam e plantavam para as suas subsistências foram expulsas de suas terras – as quais não tinham um papel que lhes desse propriedade. E isso dava o direito ao capital estrangeiro de matá-los se fosse preciso para garantir essa posse.
Á noite, a 2a Mostra Chica Pelega, juntamente com o Cine Lúmine, abre as portas para o público poder acompanhar a exibição do curta-metragem Larfiagem (2017), da hervalense Gabi Bresola e para o longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf Tambke, da Plural Filmes, de Florianópolis.
Durante a Mostra, os horários diurnos já contam com mais de 10 escolas públicas em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e a GERED. Os estudantes irão assistir a quatro curtas-metragens de diferentes décadas com o propósito de unir as atividades escolares e o cinema. Os filmes são: Irani, do Rogério Sganzerla (1983), Olhar Contestado, da Fabiane Balvedi (2015) e Larfiagem (2017), de Gabi Bresola.
Os filmes, com curadoria do cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, são curtas-metragens com duração média de 15 minutos, ideal para sala de aula, questionando as fotografias oficiais da guerra, lembrando rituais dos povos indígenas Kaingang e abordando idioma criado por hervalenses 40 anos depois do conflito para se comunicar na estação ferroviária, a conhecida grinfia ou Larfiagem.
Após a exibição haverá debate mediado pelos convidados: Paulo Pinheiro Machado, professor titular do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina, em parceria com a instituição, e de Jilson Carlos Souza, caboclo, educador e comunicador popular e integrante da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC).
Serviço
Dia 18 de abril – segunda-feira
Horário: 19h30
Local: Cine Lúmine – Rua Lages, 17 – Curitibanos
Programação e ingressos em www.chicapelega.com.br
Campos Novos recebe a 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega – contestado em foco
Na segunda-feira, dia 11 de abril, Campos Novos recebe a Segunda Mostra de Cinema Chica Pelega – o contestado em foco. Serão cinco filmes exibidos durante o dia todo, no Cine Lúmine, que fica na Praça Lauro Muller, no Centro da cidade. A Mostra leva o nome da guerreira Chica Pelega, a Francisca Roberta, resgatada por meio da memória oral do Conflito do Contestado e também propõem, por meio do cinema, uma valorização da cultura oral do povo caboclo, e uma tentativa de reparação histórica, visto que os livros didáticos – ou a historiografia oficial – pouco fala sobre quem perdeu a guerra – chamada de genocídio pelo historiador Vicente Telles: “É canhão contra facão, isso é guerra ou genocídio?”.
A Guerra do Contestado (1912-1916) foi a guerra civil mais sangrenta que aconteceu na história do Brasil. Naquele tempo, o governo brasileiro entregou uma faixa de terra de 15 quilômetros a cada margem da ferrovia São Paulo X Rio Grande para o capital estrangeiro, liberando a exploração principalmente da madeira, que era farta. As pessoas que ali moravam e plantavam para as suas subsistências foram expulsas de suas terras – as quais não tinham um papel que lhes desse propriedade. E isso dava o direito ao capital estrangeiro de matá-los se fosse preciso para garantir essa posse.
Durante a Mostra, os horários diurnos serão dedicados às escolas públicas municipais e estaduais, que irão assistir a quatro curtas-metragens: Irani, do Rogério Sganzerla (1983), Olhar Contestado, da Fabiane Balvedi (2015), Kiki, o Ritual da Resistência Kaingang (2014), da Ilka Goldschmidt e do Cassiano Vitorino e Larfiagem (2017), da Gabi Bresola.
Os filmes, com curadoria do cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, são curtas-metragens com duração média de 15 minutos, ideal para sala de aula, questionando as fotografias oficiais da guerra, lembrando rituais dos povos indígenas Kaingang e abordando idioma criado por hervalenses 40 anos depois do conflito para se comunicar na estação ferroviária, a conhecida grinfia ou Larfiagem.
À noite, o curta-metragem Kiki, o Ritual da Resistência Kaingang (2014) da Margot Filmes, de Chapecó, abre a sessão. Ele mostra o ritual mais importante daquela etnia indígena, realizado anualmente, para que os falecidos recentes fizessem uma boa passagem ao mundo dos mortos (numbê).
O Cine Lúmine abre as portas para todos os públicos também para que possam assistir ao longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf Tambke. Poe meio do grupo folclórico Renascença Cabocla, de Fraiburgo, devotos de São João Maria – ou joaninos, como são conhecidos – mantêm viva até hoje, a memória dos mortos em combate. O filme traz depoimentos de pesquisadores, é o primeiro de uma trilogia que foi produzido pela produtora Plural Filmes de Florianópolis sobre o conflito do contestado.
Após a exibição haverá debate mediado pelos convidados: João Maria Chaves dos Santos, integrante do movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST) em SC desde 1984 e de Jilson Souza, caboclo, educador e comunicador popular e integrante da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC).
O projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba.
SOBRE OS FILMES
TERRA CABOCLA
(Marcia Paraiso e Ralf Tambke, 2015, 82m)
Um povo simples, de crenças e rituais tradicionais habita a região do Planalto Catarinense. Símbolos de uma forte resistência cultural, os caboclos enfrentaram uma guerra de extermínio há 100 anos atrás, quando sofreram severos ataques de grandes fazendeiros, do Estado e das oligarquias que estavam de olho nas terras que o grupo ocupava. Apesar da Guerra do Contestado ter quase dizimado a cultura local, o povo caboclo conseguiu se reerguer e mantê-la viva até os dias atuais.
KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG
(Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, 2014, 34m)
Kiki é o ritual mais importante da etnia indígena. Foi realizado em 2011 na Aldeia Condá Chapecó/SC). De forma cronológica, são mostrados os preparativos na mata e na aldeia. A realização do ritual foi uma tentativa de revitalizar e fortalecer o dualismo Kaingang. O filme mostra, também, como a língua kaingang ainda hoje representa um importante signo dessa cultura, demonstrando que os indígenas mantêm sua identidade apesar da violência do contato com outras etnias.
(Rogério Sganzerla, 1983 – 8 m)
O cineasta, com a câmera na mão, se mistura aos personagens da festa que marca o aniversário da Guerra do Contestado, na cidade de Irani. Uma câmera que se aproxima de frente aos cavalos, que imprime movimentos circulares, estabelece uma gramática que emerge, a partir da encenação que a população da cidade constrói. O filme é a sua maneira de olhar para o seu passado a fim de constituir uma história que lhe represente.
OLHAR CONTESTADO
(Fabianne Balvedi e Fernando Severo, 2012, 15m)
A animação de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais daquela que ficou conhecida como “Guerra Santa do Sul”. “O Contestado ainda é uma guerra cheia de interrogações, cheia de dúvidas, do que realmente aconteceu. Além do importante caráter histórico/documental, o filme se destaca pelo fato de ser aberto (filme e fontes disponibilizados livremente) e ter sido produzido com ferramentas livres.)
LARFIAGEM
(Gabi Bresola, 2017, 18m)
Engraxates, carregadores de malas e outras crianças de 7 a 15 anos de idade conviviam com viajantes da estação ferroviária de Herval d’Oeste (SC), nos anos de 1950. Para sobreviver, comprar gibis e ir ao cinema, driblar fiscais, policiais e até os próprios pais, inventaram uma língua própria. Hoje, décadas depois,a Larfiagem aparece como memória de seus últimos falantes, agora septuagenários, mas que ainda conhecem, ensinam e decifram os segredos de seus substantivos e pronomes.