A 2a Mostra de Cinema Chica Pelega chega ao seu destino final. Passaram pelo Cine Lúmine de Campos Novos (11) e Curitibanos (18) mais de 1300 estudantes de 22 escolas públicas e uma privada dos municípios de Campos Novos, Curitibanos, Monte Carlo e Brunópolis. O motivo? Assistir a filmes de curtas metragens de cineastas e produtores catarinenses com temáticas envolvendo a Guerra do Contestado. Na segunda-feira, dia 25 e terça, 26, será a vez de Caçador (Queluz – Rua Onio Pedrassani,645 – Centro). Na segunda-feira (25), às 19h30, a sessão é gratuita e aberta ao público. O Projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba.
A Mostra leva o nome da guerreira Chica Pelega, a Francisca Roberta, resgatada por meio da memória oral do Conflito do Contestado e também propõem, por meio do cinema, uma valorização da cultura oral do povo caboclo, e uma tentativa de reparação histórica, visto que os livros didáticos – ou a historiografia oficial – pouco fala sobre quem perdeu a guerra – chamada de genocídio pelo historiador Vicente Telles: “É canhão contra facão, isso é guerra ou genocídio?”.
A Guerra do Contestado (1912-1916) foi o conflito civil mais sangrento que aconteceu na história do Brasil. Naquele tempo, o governo brasileiro entregou uma faixa de terra de 15 quilômetros a cada margem da ferrovia São Paulo X Rio Grande para o capital estrangeiro, liberando a exploração principalmente da madeira, que era farta. As pessoas que ali moravam e plantavam para as suas subsistências foram expulsas de suas terras – as quais não tinham um papel que lhes desse propriedade. E isso dava o direito ao capital estrangeiro de matá-los se fosse preciso para garantir essa posse.
Durante a Mostra, os horários diurnos, os estudantes irão assistir a quatro curtas-metragens de diferentes décadas com o propósito de unir as atividades escolares e o cinema. Os filmes são: Irani (1983), do Rogério Sganzerla , Olhar Contestado (2012), da Fabiane Balvedi e Fernando Severo e Larfiagem (2017), de Gabi Bresola.
Na sessão noturna, o público assistirá ao longa-metragem Terra Cabocla (2015) de Márcia Paraíso e Ralf Tambke e a dois curtas metragens – Olhar Contestado (2012), o e Irani (1983).
Os filmes, com curadoria do cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, são curtas-metragens com duração média de 15 minutos, ideal para sala de aula, questionando as fotografias oficiais da guerra e abordando idioma criado por hervalenses 40 anos depois do conflito para se comunicar na estação ferroviária, a conhecida grinfia ou Larfia. O filme mais curto é uma homenagem ao renomado diretor joaçabense Rogério Sganzerla, que tinha uma ligação também com aquele lugar onde iniciou a guerra. Após a exibição haverá debate mediado pelos convidados.
Serviço
Dia 25 de abril – segunda-feira Horário: 19h30 Local: Cine Lúmine / Queluz Rua Onio Pedrassani,645 – Centro – Caçador Programação e ingressos em www.chicapelega.com.br
Toda tradição é feita de rituais. E a tradição indígena não é diferente. Ainda se encontram remanescentes da etnia Kaingang no Oeste dos estados de RS, SC, PR e SP. Por muito tempo, praticar os seus próprios rituais foi uma forma de resistir à dominação portuguesa, de manter vivo os seus traços culturais.
Kiki, o Ritual de Culto aos Mortos é o mais importante da etnia indígena Kaingang. Ele era realizado anualmente, para que os falecidos recentes da aldeia fizessem uma boa passagem ao mundo dos mortos (numbê).
O ritual foi retomado em 2011 na aldeia Condá, em Chapecó, no Extremo Oeste Catarinense, dez anos depois da última vez que ele havia sido realizado. A sua preparação levou mais de 10 dias. A bebida é preparada dentro do tronco da árvore. Os rostos são pintados, definindo-se duas metades: kamé e kainru-kré. Desta forma, o filme de Ilka Goldschmidt e Cassemiro Vitorino apresentam a língua Kaingang, que resiste às transformações culturais.
Em março de 2017,foram entregues cópias do curta-metragem para lideranças de diferentes povos na ONU, durante conferência, em Genebra, na Suíça, a fim de mostrar a diversidade cultural dos nossos povos indígenas. Foram entregues também cópias, em DVD, na Aldeia Condá, onde o filme foi realizado.
A Margot Produções conseguiu viabilizar esta produção graças ao apoio de empresas e instituições – Unochapecó, Parfor (Plano Nacional de Formação de Professores de Educação Básica), Curso de Ciências da Religião (Unochapec), Consórcio Itá, Diocese de Chapecó, Prefeitura Municipal de Chapecó através da Secretaria de Cultura, Aurora Alimentos e Yázigi, o filme é apresentado em quatro línguas: kaingang, português, inglês e espanhol.
Conheça o trailer, a Ficha Técnica e mais informções a respeito Kiki, o Ritual de Resistência Kaingang na página do filme, neste link, aqui no nosso site.
Mais de 100 anos se passaram e a Guerra do Contestado (1912-1916) está sendo revisitada, debatida e questionada por seus descendentes por meio da relação cinema e educação. A 2a Mostra de Cinema Chica Pelega levou 632 estudantes de 12 escolas – oito estaduais, três municipais e uma particular – ao Cine Lúmine, em Curitibanos, nos dias 18 e 19 de abril. Durante as cinco sessões diurnas, todas acompanhadas de debate, os estudantes puderam assistir a três curtas-metragens: Olhar Contestado (2012), de Fabianne Balvedi e Fernando Severo; Irani (1983), de Rogério Sganzerla e Larfiagem (2017), de Gabi Bresola. Na sessão noturna, teve também a exibição do longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf Tambke. Produção da Pupilo TV e da VMS Produções. Realização: Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc.
Durante o bate-papo, o professor Jilson Carlos Souza, da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC), de Fraiburgo, comentou com os estudantes sobre a origem do nome Curitibanos – Homens que vem de Curitiba. Estes homens, segundo ele, faziam o tropeirismo de gado, ou seja, conduziam os animais do Rio Grande do Sul até o centro econômico do Brasil, que naquela época era Sorocaba, no interior de São Paulo. A palavra Curitiba tem origem tupi-guarani – Cidade das Araucárias. E assim, os homens que viajavam até Curitiba, fundaram uma cidade no meio do caminho, antes de chegar na cidade das Araucárias. Por ser este lugar de passagem, Curitibanos é o espaço também que deu origem a outros conflitos agrários desta época.
A partir desta introdução, o educador popular contou o que ele considera um dos episódios mais interessantes da Guerra do Contestado e que fica localizado há 800 metros de onde acontecia a 2a Mostra de Cinema Chica Pelega – Contestado em Foco. “Cansados de apenas se defenderem dos ataques, os caboclos e caboclas resolvem também atacar. Eles incendiaram o cartório e a Igreja. No entanto, eles não buscavam vingança, não queriam o sangue dos seus matadores, eles queriam justiça. Ninguém morreu. Os prédios estavam vazios, Apenas foram queimados e eliminados os registros, os papéis, os documentos que davam direito de posse às terras – o que dava direito a matar”, disse ele ainda acrescentando:
Para nós caboclos e caboclas, a nossa relação com a terra não é de exploração, é de pertencimento. A terra é nossa mãe, ela é o que nós chamamos de pachamama, a grande mãe. E pros brancos que aqui chegaram e passaram a ter o título de terra, e por isso eles podiam expulsar os caboclos de suas terras, a relação é de exploração da terra. Isso denota que a nossa história não começou há 60, 70, 100 anos atrás, com os imigrantes. Ela começou há pelo menos 10 mil anos, com as nações indígenas. Não foi o homem branco que nos ensinou a comer aipim, pinhão, foi o indígena. E é dessa história que nós estamos falando nesses filmes.
Por meio da parceria entre a 2 Mostra de Cinema Chica Pelega Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) campus de Curitibanos, foi possível a participação do professor Paulo Pinheiro Machado, autor de Lideranças do Contestado (2004), Guerra Santa Revisitada (2008), Rebeldes do Contestado (2016) e coordenador do grupo de pesquisa sobre o Contestado. Para ele:
A resistência contra a expropriação de ferrovias existia em todo o Brasil e em toda a América Latina. Essa concessão que dava terra em cada lado da linha de ferro não era só no Contestado. Estradas em outros lugares do Brasil impactavam sobre comunidades da mesma forma, mas não aconteceu a Guerra do Contestado em todo lugar. Aqui houve a união de vários elementos culturais subjetivos que viabilizaram esta forma de resistência e de organização da população. É isso que a gente precisa entender. A luta contra o coronelismo, contra a ferrovia que causava todo aquele impacto ambiental e social, são elementos muito além das questões regionais. São elementos nacionais. A discussão sobre o coronelismo não era uma discussão só do meio oeste de Santa Catarina, era um problema do Brasil inteiro. E ainda é.
O professor Paulo Pinheiro insiste que o contexto agrário no Contestado é de resistência à expropriação.
Eles já eram posseiros. Até os grandes fazendeiros não tinham título de propriedade. O contexto hoje é de reconquista do território perdido. A luta pela Reforma Agrária hoje se comunica com o Contestado, assim como se comunica com as missões Jesuíticas. Há vários descendentes de imigrantes nos redutos.
Mas, afinal, quem é o povo caboclo?
Os estudantes ficaram curiosos ao ver os filmes, ao ouvir as histórias relatadas pelo professor Jilson Souza, a respeito da participação de Curitibanos na Guerra do Contestado, dos ajuntamentos, então chamados de Cidades Santas. Mas quem são então estes caboclos
O caboclo e a cabocla somos todos nós: o preto, o índio e o branco pobre Esse povo misturado, que resistiu e nos trouxe até aqui. Nós só estamos vendo esses filmes e dialogando sobre o Contestado porque nós somos descendentes, nós somos continuadores da história do Contestado. Hoje em outras trincheiras. Naquele momento, eles tiveram que enfrentar canhão, avião, metralhadora alemã. Hoje, a nossa tarefa é enfrentar a tentativa de esquecimento, de apagamento da história, de quem nós somos e o que somos. E ser caboclo é um grupo social formado por pelo menos três etnias: indígena, negra e branca.
A guerra podia ter sido evitada
O professor Paulo Pinheiro Machado destacou uma fala do professor Rogério, dentro do filme Terra Cabocla (2012), quando ele afirma que a guerra contra o próprio povo não é uma fatalidade, é uma decisão política. Ela podia ter sido evitada e a matança não teria acontecido:
Possivelmente Taquarussu hoje fosse uma espécie de Juazeiro do Norte, vendendo fitinhas de João Maria, tendo uma romaria anual… Juazeiro do Norte teve mediações políticas que impediram o ataque. Padre Cícero era um coronel, ele estava na política oligárquica, influenciava na política nacional e regional. Aqui no Contestado eles não tinham nenhum tutor, nenhum coronel que fizesse esse tipo de mediação. E aquela concentração de pobres foi vista como uma ameaça à ordem estabelecida. Foram sistematicamente atacados e a Guerra se estabeleceu.
Ao final de cada sessão, de cada participação, de cada nova escola, de cada novo município da região do Contestado por onde a 2 Mostra Chica Pelega tem passado percebe-se que a história é latente. As reflexões sobre a guerra são também sobre a vida e a reconquista da terra. Esta edição se encerra na próxima parada, em Caçador, nos dias 25 e 26 de abril, no Cine Lúmine. Até lá.
A estreia da 2a Mostra de Cinema Chica Pelega aconteceu na última segunda-feira, dia 11 de abril em Campos Novos. Foram exibidos três curtas-metragens em quatro sessões-escola e uma sessão noturna aberta ao público, com um curta e um longa-metragem. Todas elas com entrada gratuita. O projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc, com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba. Nas próximas semanas, a Mostra passará ainda pelos municípios de Curitibanos (18) e Caçador (25).
De manhã,354 estudantes das redes públicas municipal – Prof. Nair da Silva Gris (CAIC); Sta Julia Billiart; Novos Campos – e estadual – Paulo Blasi e Prof. Antonia Correa Mendes, Henrique Rupp e Gasparino – de Campos Novos assistiram aos curtas-metragens Olhar Contestado(2015), de Fabianne Balvedi e Fernando Severo; Irani (1983), de Rogério Sganzerla e Larfiagem (2017) de Gabi Bresola, em duas sessões (8h30 e 10h).
À tarde, as Escola Estaduais Henrique Rupp e Gasparino, o CAIC a Santa Julia Billiart mandaram outras turmas. Além delas, ainda compareceram a Escola de Educação Básica Professora Virginia Paulina da Silva Gonçalves, de Monte Carlo. Na soma, foram 228 alunos, divididos em duas sessões – às 14h e às 15h30, para assistirem e debaterem os filmes apresentados na 2a Mostra de Cinema Chica Pelega, no Cine Lúmine.
Fechando a programação, às 19h30, a última sessão, aberta ao público, contando com a presença de 135 estudantes do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) de Campos Novos e Monte Carlo, além de outros interessados em conhecer os filmes que retratavam os temas referentes à Guerra do Contestado e à cultura cabocla.
Entre os interessados, estava o ex-senador da República, Dirceu Carneiro, e a esposa, Terezinha, moradores da região. Eles chegaram cedo e acompanharam a exibição de Kiki, o Ritual de Resistência Kaingang (2012), de Ilka Goldsmith e Cassiano Vitorino, da Margot Filmes de Chapecó, e de Terra Cabocla (2015) de Marcia Paraiso e Ralf Tambke, da Plural Filmes.
Ao final de cada sessão – manhã, tarde e noite – houve debate sobre os temas levantados pelos filmes. Durante o dia, com a participação do professor Jilson Souza, caboclo, educador e comunicador popular, integrante do Fórum Regional em Defesa da Civilização e da Cultura Cabocla do Contestado e da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC). Para o debate da noite, contamos com a participação também de João Maria Chaves dos Santos, assentado no MST em Campos Novos, pesquisador oral das lutas pela terra, descendente de caboclos.
Os estudantes não se sentiram intimidados em perguntar. Queriam saber sobre a formação dos povos originários, a construção e o porque não se mantém atualmente ativa a estrada ferro, interessaram-se muito pela “larfia”, a língua criada em Herval do Oeste pelos meninos que trabalhavam na Estação Ferroviária, retratados no filme de Gabi Bresola.
Muitos deles nunca tinham ido ao cinema, segundo o relato das professoras. Não nos constrangemos com esta pergunta. Mas estava em seus olhos. Brilhavam. Suas almas pareciam sair do corpo e ir em direção à tela, em direção ao sonho.
Fotos: Luana Callai Fotógrafa
OS FILMES
TERRA CABOCLA (Marcia Paraiso e Ralf Tambke, 2015, 82m) Um povo simples, de crenças e rituais tradicionais habita a região do Planalto Catarinense. Símbolos de uma forte resistência cultural, os caboclos enfrentaram uma guerra de extermínio há 100 anos atrás, quando sofreram severos ataques de grandes fazendeiros, do Estado e das oligarquias que estavam de olho nas terras que o grupo ocupava. Apesar da Guerra do Contestado ter quase dizimado a cultura local, o povo caboclo conseguiu se reerguer e mantê-la viva até os dias atuais. Llink para download do cartaz do filme.
KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG (Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, 2014, 34m) Kiki é o ritual mais importante da etnia indígena. Foi realizado em 2011 na Aldeia Condá Chapecó/SC). De forma cronológica, são mostrados os preparativos na mata e na aldeia. A realização do ritual foi uma tentativa de revitalizar e fortalecer o dualismo Kaingang. O filme mostra, também, como a língua kaingang ainda hoje representa um importante signo dessa cultura, demonstrando que os indígenas mantêm sua identidade apesar da violência do contato com outras etnias. Link para download do cartaz do filme
IRANI (Rogério Sganzerla, 1983 – 8 m) O cineasta, com a câmera na mão, se mistura aos personagens da festa que marca o aniversário da Guerra do Contestado, na cidade de Irani. Uma câmera que se aproxima de frente aos cavalos, que imprime movimentos circulares, estabelece uma gramática que emerge, a partir da encenação que a população da cidade constrói. O filme é a sua maneira de olhar para o seu passado a fim de constituir uma história que lhe represente.
OLHAR CONTESTADO (Fabianne Balvedi e Fernando Severo, 2012, 15m) A animação de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais daquela que ficou conhecida como “Guerra Santa do Sul”. “O Contestado ainda é uma guerra cheia de interrogações, cheia de dúvidas, do que realmente aconteceu. Além do importante caráter histórico/documental, o filme se destaca pelo fato de ser aberto (filme e fontes disponibilizados livremente) e ter sido produzido com ferramentas livres.)
LARFIAGEM (Gbi Bresola, 2017, 18m) Engraxates, carregadores de malas e outras crianças de 7 a 15 anos de idade conviviam com viajantes da estação ferroviária de Herval d’Oeste (SC), nos anos de 1950. Para sobreviver, comprar gibis e ir ao cinema, driblar fiscais, policiais e até os próprios pais, inventaram uma língua própria. Hoje, décadas depois,a Larfiagem aparece como memória de seus últimos falantes, agora septuagenários, mas que ainda conhecem, ensinam e decifram os segredos de seus substantivos e pronomes.
Olhar Contestado é um documentário que aborda um episódio acontecido há quase 15 anos após o término da Guerra de Canudos. Com proporções e significados semelhantes, a Guerra do Contestado conflagrou-se numa região do sul do Brasil cuja posse era disputada pelos estados do Paraná e Santa Catarina. Numa extensão de terras equivalente ao Estado de Alagoas (25.000 km2), durante mais de quatro anos, entre 1912 e 1916, uma população estimada em vinte mil sertanejos enfrentou as forças do governo e do coronelismo predominante na região, num conflito que chegou a envolver 80% do Exército Brasileiro. Ao término do conflito, Paraná e Santa Catarina assinaram um acordo estabelecendo definitivamente suas divisas. E foi no apogeu de tais lutas que pela primeira vez na história do Brasil as massas camponesas manifestaram a clara consciência da necessidade de garantir seu “direito de terras.
Fabianne Balvedi aponta o seu “olhar contestado” dirigindo um documentário de 15 minutos, que faz parte da 2ª Mostra Chica Pelega de Cinema. Acompanhe esse diálogo e curiosidades sobre o que esse filme apresenta e como ocorreu sua produção, técnicas utilizadas e mais informações:
Quando você teve a ideia de falar sobre o Contestado?
Apesar de ser da região, como a maioria de nós, eu só comecei a ouvir falar mais sobre a Guerra do Contestado depois de ter saído da escola. Eu fui convidada pelo Fernando Severo, que é de Caçador, para participar de um projeto de filme que ele pretendia ao tentar uma Lei de Incentivo. Eu topei. Fui a produtora e acabei sendo também a diretora porque ele achou justo que a direção ficasse comigo. O roteiro e montagem foram dele. Mas a ideia de fazer um filme sobre o Contestado foi do Fernando. Juntamente com toda a equipe que está na ficha técnica, fizemos o Olhar Contestado.
Como você teve acesso às fotos do Claro Jansson?
Eu tive acesso a essas fotos por meio do Paulo Moretti, que é neto dele. Quem me apresentou à ele foi o professor Nilson Cesar Fraga. Eu cheguei ao professor Nilson pela pesquisa da Luciane Stocco e do Thiago Benites, que foram os dois pesquisadores do nosso filme.
O que significa o filme ter sido editado com o uso de software livre?
Significa que ele é um filme que conseguiu ser feito com ferramentas livres. Isso mostra que é possível trabalhar profissionalmente com software livre. É como um atestado de funcionalidade da ferramenta. Mostra que ela não deixa a desejar para nenhuma outra ferramenta no mercado. Existe um preconceito de que software livre não funciona. Inclusive o sistema operacional Android, por onde nos comunicamos, é um software livre. Além de usar software livre, o próprio filme é livre.
Há uma noção de realidade ou ficção que pode ser manipulada?
Na verdade, a tese do professor Rafael, que também está nas entrevistas, no elenco do filme, é que as fotos foram posadas, para passar algo que não estava acontecendo. Que a guerra era justa com o lado perdedor e que o lado perdedor estava sendo bem tratado, quando não foi bem tratado, teve muita gente que foi morta e depois não sabiam o que fazer com tantos prisioneiros. Era muita gente para alimentar. E nestes moldes é que se diz que aconteceu este genocídio, ao final da guerra. Na época também, você não conseguia fazer uma foto instantânea. A pessoa precisava parar na frente da foto. Então, tem vários motivos para as fotos terem sido feitas daquela forma como foi. Mas, simbolicamente, dá pra ver que os caboclos estavam em uma posição inferior e o Exército atrás, em pé. Não sei nem se foi consciente. Mas você consegue perceber isso nas fotos, pelas posturas.
O que significa para você ter o seu filme incluído em uma Mostra de Filmes que se propõe a apresentar o Contestado à estudantes da rede pública de ensino na região onde o conflito ocorreu?
Pra mim, é a consolidação do objetivo do filme. É o início de uma trajetória que eu quero que perdure o quanto puder. Não sei quanto tempo existe de vida para um filme. Não sei se a gente pode dizer que algum filme morreu em algum momento, não sei o que significa a vida de um filme. Mas eu acho que dá pra dizer que o filme entrou nos trilhos da trajetória que deveria seguir. Importante ele ficar conhecido para ser utilizado nas escolas. O meu objetivo, pelo menos, era esse. Era que a história pudesse ficar conhecida por essa lente do olhar contestado.
Para conhecer melhor a o trabalho de Fabianne Balvedi você pode conferir a na minibio aqui mesmo no site da 2a Mostra de Cinema Chica Pelega. E para assistir ao trailer deste e dos demais filmes desta mostra, e ter acesso às fichas técnicas e outras informações, acesse a página Filmes, aqui mesmo.
Irani foi o local onde ocorreu o primeiro combate, dando início a Guerra do Contestado, onde o Exército encontrou o povo caboclo, então já unido em comunidade, amparado pelas bênçãos do monge que depois foi consagrado São João Maria, que lhes preparava chás para curar as tantas dores e enfermidades. Por coincidência, o pai de Rogério Sganzerla foi um dos fundadores, construtores: “uma pessoa a qual as pessoas jamais esquecem”. Nas palavras do próprio cineasta, em entrevista à Adgar Bittencourt, no programa Olho Vivo na TV, no extinto Canal 21, de Joaçaba, sua terra natal, em dezembro de 1999. Rogério falava com muito amor sobre este projeto que envolvia o Irani. O curta-metragem era apenas uma parte. Ele parecia não abrir mão deste resgate.
Eu me sinto lisonjeado e devo repetir que tenho a maior satisfação de ter encontrado, até na Sorbonne, em Paris, estudantes fazendo teses sobre o meu primeiro longa-metragem, O Bandido da Luz Vermelha (1968), e também em outros países. Mas na verdade, eu devo dizer que o filme que eu queria estrear, e que até hoje eu não pude fazer na sua longa-metragem, é o filme sobre o Contestado, sobre a nossa terra, sobre o Irani.
Rogério Sganzerla foi crítico de cinema (Suplemento Literário – Estadão, Folha da Manhã, Folha da Tarde) e obteve reconhecimento mundial no cinema depois como realizador. Sempre defendeu o cinema, a arte, a liberdade de criar. Mas, acima de tudo, amava o seu povo, tinha muito orgulho de ser “um cara do interior” e de guardar traços dessa herança.
Nesta mesma entrevista, dada à TV local da sua cidade natal, conta que passou muitos meses trabalhando neste projeto sobre a Guerra do Contestado, no Irani. Conversando com o Maestro Vicente Telles, a quem admirava. Não queria mostrar só canhões, mas pensava em um processo diferenciado.
Eu tinha conhecido, eu admiro muito o trabalho musical do maestro Vicente Telles. Ele se preocupa em manter os locais onde aconteceram os combates iniciais, no Irani, e este é um projeto que eu acalento desde 1961. Eu queria fazer isso na forma que fosse útil e agradável ao público. Eu queria contar uma história, é uma curva dramática, todos são heróis e ao mesmo tempo, há uma reflexão histórica e tem ligações com o Paraná.
E então Rogério afirma que este projeto ficou parado por falta de incentivo financeiro. Ele dizia que era para ser feito com investimento vindo de Santa Catarina e do Paraná. Era para ser algo que interessasse até mesmo aos poderes públicos destes lugares para esclarecer o que houve na região. As pessoas deveriam buscar estes esclarecimentos. Saber das origens, da identidade e contemplar esta história que foi feita principalmente de heróis. Não os militares, mas os que se doaram para proteger as suas famílias e buscar algo melhor para as crianças que ficaram esperando em casa as suas voltas. E em nome deles ele acalentou este projeto.
Para mais informações a respeito do filme Irani (1983), de Rogério Sganzerla, e os outros filmes que estão na 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega, entre na Sessão Filmes.
A 2ª Mostra de Cinema Chica Pelega teve a sua estreia no dia 11 de abril no Cine Lúmine, em Campos Novos, onde mais de 700 estudantes da rede pública municipal e estadual tiveram acesso a filmes de cineastas e produtores catarinenses com temáticas envolvendo a Guerra do Contestado. Na segunda-feira, dia 18, será a vez de Curitibanos (Cine Lúmine – Queluz – Rua Lages, 17).
Desta forma, une-se educação e cinema e se começa a pensar a partir do olhar e da percepção de cada um a respeito da sua identidade regional. O Projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba.No dia 25, encerra-se o evento, em Caçador.
A Mostra leva o nome da guerreira Chica Pelega, a Francisca Roberta, resgatada por meio da memória oral do Conflito do Contestado e também propõem, por meio do cinema, uma valorização da cultura oral do povo caboclo, e uma tentativa de reparação histórica, visto que os livros didáticos – ou a historiografia oficial – pouco fala sobre quem perdeu a guerra – chamada de genocídio pelo historiador Vicente Telles: “É canhão contra facão, isso é guerra ou genocídio?”.
A Guerra do Contestado (1912-1916) foi o conflito civil mais sangrento que aconteceu na história do Brasil. Naquele tempo, o governo brasileiro entregou uma faixa de terra de 15 quilômetros a cada margem da ferrovia São Paulo X Rio Grande para o capital estrangeiro, liberando a exploração principalmente da madeira, que era farta. As pessoas que ali moravam e plantavam para as suas subsistências foram expulsas de suas terras – as quais não tinham um papel que lhes desse propriedade. E isso dava o direito ao capital estrangeiro de matá-los se fosse preciso para garantir essa posse.
Á noite, a 2a Mostra Chica Pelega, juntamente com o Cine Lúmine, abre as portas para o público poder acompanhar a exibição do curta-metragem Larfiagem (2017), da hervalense Gabi Bresola e para o longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf Tambke, da Plural Filmes, de Florianópolis.
Durante a Mostra, os horários diurnos já contam com mais de 10 escolas públicas em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e a GERED. Os estudantes irão assistir a quatro curtas-metragens de diferentes décadas com o propósito de unir as atividades escolares e o cinema. Os filmes são: Irani, do Rogério Sganzerla (1983), Olhar Contestado, da Fabiane Balvedi (2015) e Larfiagem (2017), de Gabi Bresola.
Os filmes, com curadoria do cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, são curtas-metragens com duração média de 15 minutos, ideal para sala de aula, questionando as fotografias oficiais da guerra, lembrando rituais dos povos indígenas Kaingang e abordando idioma criado por hervalenses 40 anos depois do conflito para se comunicar na estação ferroviária, a conhecida grinfia ou Larfiagem.
Após a exibição haverá debate mediado pelos convidados: Paulo Pinheiro Machado, professor titular do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina, em parceria com a instituição, e de Jilson Carlos Souza, caboclo, educador e comunicador popular e integrante da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC).
Serviço
Dia 18 de abril – segunda-feira Horário: 19h30 Local: Cine Lúmine – Rua Lages, 17 – Curitibanos Programação e ingressos em www.chicapelega.com.br
Na segunda-feira, dia 11 de abril, Campos Novos recebe a Segunda Mostra de Cinema Chica Pelega – o contestado em foco. Serão cinco filmes exibidos durante o dia todo, no Cine Lúmine, que fica na Praça Lauro Muller, no Centro da cidade. A Mostra leva o nome da guerreira Chica Pelega, a Francisca Roberta, resgatada por meio da memória oral do Conflito do Contestado e também propõem, por meio do cinema, uma valorização da cultura oral do povo caboclo, e uma tentativa de reparação histórica, visto que os livros didáticos – ou a historiografia oficial – pouco fala sobre quem perdeu a guerra – chamada de genocídio pelo historiador Vicente Telles: “É canhão contra facão, isso é guerra ou genocídio?”.
A Guerra do Contestado (1912-1916) foi a guerra civil mais sangrenta que aconteceu na história do Brasil. Naquele tempo, o governo brasileiro entregou uma faixa de terra de 15 quilômetros a cada margem da ferrovia São Paulo X Rio Grande para o capital estrangeiro, liberando a exploração principalmente da madeira, que era farta. As pessoas que ali moravam e plantavam para as suas subsistências foram expulsas de suas terras – as quais não tinham um papel que lhes desse propriedade. E isso dava o direito ao capital estrangeiro de matá-los se fosse preciso para garantir essa posse.
Durante a Mostra, os horários diurnos serão dedicados às escolas públicas municipais e estaduais, que irão assistir a quatro curtas-metragens: Irani, do Rogério Sganzerla (1983), Olhar Contestado, da Fabiane Balvedi (2015), Kiki, o Ritual da Resistência Kaingang (2014), da Ilka Goldschmidt e do Cassiano Vitorino e Larfiagem (2017), da Gabi Bresola.
Os filmes, com curadoria do cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, são curtas-metragens com duração média de 15 minutos, ideal para sala de aula, questionando as fotografias oficiais da guerra, lembrando rituais dos povos indígenas Kaingang e abordando idioma criado por hervalenses 40 anos depois do conflito para se comunicar na estação ferroviária, a conhecida grinfia ou Larfiagem.
À noite, o curta-metragem Kiki, o Ritual da Resistência Kaingang (2014) da Margot Filmes, de Chapecó, abre a sessão. Ele mostra o ritual mais importante daquela etnia indígena, realizado anualmente, para que os falecidos recentes fizessem uma boa passagem ao mundo dos mortos (numbê).
O Cine Lúmine abre as portas para todos os públicos também para que possam assistir ao longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf Tambke. Poe meio do grupo folclórico Renascença Cabocla, de Fraiburgo, devotos de São João Maria – ou joaninos, como são conhecidos – mantêm viva até hoje, a memória dos mortos em combate. O filme traz depoimentos de pesquisadores, é o primeiro de uma trilogia que foi produzido pela produtora Plural Filmes de Florianópolis sobre o conflito do contestado.
Após a exibição haverá debate mediado pelos convidados: João Maria Chaves dos Santos, integrante do movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST) em SC desde 1984 e de Jilson Souza, caboclo, educador e comunicador popular e integrante da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC).
O projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e da Pupilo TV de Joaçaba.
SOBRE OS FILMES
TERRA CABOCLA
(Marcia Paraiso e Ralf Tambke, 2015, 82m)
Um povo simples, de crenças e rituais tradicionais habita a região do Planalto Catarinense. Símbolos de uma forte resistência cultural, os caboclos enfrentaram uma guerra de extermínio há 100 anos atrás, quando sofreram severos ataques de grandes fazendeiros, do Estado e das oligarquias que estavam de olho nas terras que o grupo ocupava. Apesar da Guerra do Contestado ter quase dizimado a cultura local, o povo caboclo conseguiu se reerguer e mantê-la viva até os dias atuais.
KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG
(Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, 2014, 34m)
Kiki é o ritual mais importante da etnia indígena. Foi realizado em 2011 na Aldeia Condá Chapecó/SC). De forma cronológica, são mostrados os preparativos na mata e na aldeia. A realização do ritual foi uma tentativa de revitalizar e fortalecer o dualismo Kaingang. O filme mostra, também, como a língua kaingang ainda hoje representa um importante signo dessa cultura, demonstrando que os indígenas mantêm sua identidade apesar da violência do contato com outras etnias.
IRANI
(Rogério Sganzerla, 1983 – 8 m)
O cineasta, com a câmera na mão, se mistura aos personagens da festa que marca o aniversário da Guerra do Contestado, na cidade de Irani. Uma câmera que se aproxima de frente aos cavalos, que imprime movimentos circulares, estabelece uma gramática que emerge, a partir da encenação que a população da cidade constrói. O filme é a sua maneira de olhar para o seu passado a fim de constituir uma história que lhe represente.
OLHAR CONTESTADO
(Fabianne Balvedi e Fernando Severo, 2012, 15m)
A animação de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais daquela que ficou conhecida como “Guerra Santa do Sul”. “O Contestado ainda é uma guerra cheia de interrogações, cheia de dúvidas, do que realmente aconteceu. Além do importante caráter histórico/documental, o filme se destaca pelo fato de ser aberto (filme e fontes disponibilizados livremente) e ter sido produzido com ferramentas livres.)
LARFIAGEM
(Gabi Bresola, 2017, 18m)
Engraxates, carregadores de malas e outras crianças de 7 a 15 anos de idade conviviam com viajantes da estação ferroviária de Herval d’Oeste (SC), nos anos de 1950. Para sobreviver, comprar gibis e ir ao cinema, driblar fiscais, policiais e até os próprios pais, inventaram uma língua própria. Hoje, décadas depois,a Larfiagem aparece como memória de seus últimos falantes, agora septuagenários, mas que ainda conhecem, ensinam e decifram os segredos de seus substantivos e pronomes.
Quem mora aqui na região de Herval d`Oeste e Joaçaba com certeza já ouviu alguém “larfiando” na rua, gritando “Cirne” ao avistar um amigo ao longe.Faz parte do linguajar local, a forma como as pessoas se comunicam. Essa mistura que forma esse nosso caldeirão cultural.
Lá pelos anos 1950, quando a ferrovia ainda estava a pleno vapor, a estação ferroviária que fica em Herval d´Oeste era bastante movimentada. E isso dava trabalho também aos meninos de 7 a 15 anos, como engraxates, carregadores de malas, auxiliando os viajantes que circulavam naquela região. Mas estes meninos eram perseguidos pelos vigias que faziam a guarda da ferrovia.
Foi então que eles resolveram criar, para a sua própria proteção, uma língua própria, para poder se comunicar sem que os guardas pudessem entender o que eles conversavam. Detalhes sobre isso são contados pelos próprios personagens, entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, com produção local de Omar Dimbarre quando já estavam com 60, 70 anos, e contaram as suas histórias à diretora de Larfiagem, Gabi Bresola, que é nascida na cidade.
Dicionário de Larfiagem
Janeiro – Lanergio
Fevereiro – Lefelerveio
Março – Tiarcio
Abril – Alirpio
Maio – Larmio
Junho – Nunrigio
Julho – Lurgio
Agosto – Lanostio
Setembro – Lenensbrio
Outubro – Lenunsbrio
Novembro – lonembrio
Dezembro – losnembrio
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Primeiro – Lirpieiro
Segundo – Crisiundo
Terceiro – Letiercio
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O filme Larfiagem, faz parte da programação da Mostra de Cinema Chica Pelega. Clique aqui para acessar as informações do filme. O filme tem direção da Gabi Bresola e produção da OMBU Produção e Magnólia Produções.
Onde hoje se encontra o município de Fraiburgo, muitas rezadeiras tratam de ajudar as almas que ainda não conseguiram se libertar da opressão, do massacre sofrido no Taquarussu do Bonsucesso, o Reduto Santo que ficava ali, naquela vila. Então elas rezam com devoção, cantam e seguem o cerimonial da morte, a cada nova procissão.
Assim nos mostra o filme de Márcia Paraíso e Ralf Tambke, e nos relatam os personagens que seguem esta trilha. Seguidos pelas falas dos pesquisadores que se debruçam sobre estes relatos e investigam a origem deste povo caboclo. Paulo Pinheiro Machado diz que esta era uma região fronteiriça, habitada basicamente por negros e por indígenas, que eram então conhecidos por caboclos. Fernando Totanski diz que imigrantes polacos e ucranianos já habitavam a região contestada nesta guerra antes mesmo de se instalar a ferrovia.
São ouvidos ainda moradores do Assentamento Contestado, naquele município. Tânia Werlter relata: “Pode ser indígena, pode ser negro, pode ser descendente de europeu que se reconhece como caboclo…” Júlio Corrente completa: “É o catarinense natural. Ele vive na linha da pobreza. Ele tem uma cultura diferenciada. Ele apenas trabalha para viver. Não vive para a manutenção do capital, para a manutenção do bem e patrimônio.”
O professor Nilson Fraga pensa que isso poderia estar previsto na forma da Lei. Os homens e mulheres caboclos do contestado sendo reconhecidos como os legítimos catarinenses – “antes de um alemão, de um italiano, de um polaco, de um ucraniano, de um japonês, de um africano – e depois nós vamos ser um conjunto disso tudo – o caboclo é o catarinense característico”.
TERRA CABOCLA (2015) 82 minutos Formato Full HD Equipe técnica: Roteiro – Marcia Paraiso Produção Executiva – Ralf Tambke Produção – Marcia Paraiso Montagem – Glauco Broering Produtora – Plural Filmes